2007-12-27

Voltei!
É Natal.
É tempo de abrir o coração para abraçar o estado de Natal.
De viver em estado de Nascimento.
Feliz Natal!
Viva 2007, que, por terminar no número 7, símbolo de perfeição e plenitude, procurei viver sob o prisma desta simbologia. Para que da simbologia nasça Vida.
Perfeição.
Santidade.
Doação.
Abertura.
Receptáculo de mim mesmo e do Outro para os outros.
Só agora que a celebração de Natal aconteceu, posso reflectir sobre o Natal.
Apetece-me dizer muita coisa, mas tudo se reduz a uma palavra: essencial.
O que é o essencial do Natal?
O que é o essencial do meu Natal?
Quem é o essencial no meu Natal?
Só de hoje a um ano poderei dar resposta a esta questão.
Porque o Natal que acabo/estou a viver hoje tem as raízes no Natal que vivi o ano passado.
2007 foi o meu Natal e, com saudade, percebi que apenas foi a porta de entrada para o ano 2008.
Dou comigo a pensar e a reflectir e a rezar sobre que pedra construir este ano novo.
À semelhança da simbologia bíblica do número 7 sobre a qual procurei nortear este ano, procurei saber que portas é que o número 8 me abria.
Hoje, rezando, encontrei a resposta.
A partir da leitura do livro de Bento XVI, "Jesus de Nazaré", "descobri" que as Bem -Aventuranças são 8.
E agora?!
Nada a fazer... Toca a entrar na aventura!
Voltei!
É Natal!
Bem - aventurado Natal!

2007-06-15

a Mãe Clara e o Coração de Jesus no dia da festa do Coração de Jesus:hoje


Profundo e íntimo era o amor que Madre Maria Clara dedicava ao Sagrado Coração de Jesus. Certamente herdado da terna devoção que o fundador, Padre Raimundo, Lhe consagrava, mas também absorvido desse "cristocentrismo do Coração" que dominou a segunda metade do séc. XIX.

O "Coração" que se considera é o da Paixão e o da Cruz, por um lado, e o da Eucaristia, por outro. Enquanto que do recurso à misericórdia brota a confiança, do recurso ao amor brota a conversão, que induz a sofrer com o Salvador.

É exactamente na contemplação deste amor ofendido, pleno de misericórdia, e no desejo de pagar-lhe com igual amor, que Mãe Clara podia animar suas irmãs a servir, amar e reparar. Escreve ela na 12.ª Circular, de 11/1/1899:

"vivendo de abnegação e de sacrfício, ela (a religiosa, o cristão leigo) trabalhará por despir-se do velho homem e renovar-se no espírito do homem novo, e, como o nosso Santo Pai (S. Francisco de Assis), terá sempre em seus lábios e no seu coração estas palavras: "Meus Deus e meu tudo!". E Deus, em Sua infinita misericórdia e em Seu imenso amor, aceita como um perene holocausto, as suas mínimas palavras, os seus suspiros; tudo nela (em nós ) é (deve ser) um mérito e uma oração."

Nesta perspectiva do "Reinado Universal do Coração de Jesus" é que se situa esse momento alto da história da Congregação, realizado no dia 26 de Junho de 1882: a Consagração solene e oficial da Congregação ao Coração Sagrado do Redentor e Rei de todos os corações.

Por esse gesto de tão profundo amor e devoção, Mãe Clara queria oferecer-Lhe (e certamente também o quer hoje, da janela com que nos observa e acompanha lá no céu) o coração de cada uma das Irmãs e colocar sob a Sua protecção todas as pessoas e obras para as quais trabalhavam. Mas queria, igualmente que o coração de cada hospitaleira/o palpitasse em uníssono com esse Coração Sagrado, ferido e aberto, a fim de poder assimilar os Seus mesmos sentimentose de O ter sempre como ÚNICO SENHOR E MESTRE de toda a sua vida.

Para realizar essa intenção reparadora e obter do Céu a conversão da humanidade, fundou-se, também, no mesmo dia 26 de Junho de 1882 a "Arquiconfraria do Sagrado Coração de Jesus".

Até 1910, o Livro dos Nomes das Irmãs associadas à Arquiconfraria do Coração de Jesus, agora conservado na Torre do Tombo , em Lisboa, regista o total de 1095 Irmãs Hospitaleiras. Por onde se pode concluir que pertencer à Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras significava também, estar directamente consagrada ao Coração de Jesus e comprometida no "Apostolado da Oração".

Existe um facto, que nada tem de casual, e que está profundamente ligado ao último dia da vida da Mãe Clara: foi o último acto de piedade em que ela tomou parte. Exactamente nessa tarde, uma primeira sexta-feira, ela assistiu e participou nas celebrações da devoção do Coração de Jesus e à recitação da Ladainha do mesmo Sagrado Coração, que, precisamente nesse dia, foi cantada nas Trinas pela primeira vez.

Essa Ladainha data, na sua maior parte, do séc. XVIII, mas, nos finais do século seguinte, Roma proibiu a sua recitação pública, porque ainda não tinha recebido a aprovação oficial.Em 1898, por pedido insistente do Bispo de Marselha, foi finalmente aprovada pela Sagraga Congregação dos Ritos e, em 1899, ano da morte da Madre Maria Clara, esta Ladainha em uso até hoje recebeu aprovação universal do Papa Leão XIII, quando ele a rezou solenemente durante o Acto Solene da Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus.

Deus quis compensar a Sua fiel serva com a graça de viver os seus últimos momentos entre nós à sombra do Seu Sagrado Coração, invocando-O como salvação dos que nEle esperam.

quem foi/é Madre Maria Clara - Mãe Clara

A 1 de Dezembro de 1899, faleceu em Lisboa a MÃE DOS POBRES, Madre Maria Clara do Menino Jesus, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.

Nascera 56 anos antes, a 15 de Junho de 1843, e o seu nome de Família era Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles de Albuquerque. Viu a luz da vida na "Quinta do Bosque", situada na povoação hoje conhecida pelo nome de Amadora, nos arredores de Lisboa.

Tendo ficado órfã nas epidemias de 1856-57, foi educada no Asilo Real da Ajuda, em Lisboa, destinado às órfãs de famílias nobres. Aos 19 anos, com a expulsão das Irmãs da Caridade francesas, em Outubro de 1957, foi acolhida no Palácio dos Marqueses de Valada, com quem viveu durante cerca de 5 anos. Os Marqueses trataram-na como uma filha.

Após este tempo, vivido no meio de luxos e vaidade social, decidiu renunciar a tudo e entrar no Pensionato de S. Patrício, junto das Irmãs Capuchinhas Concepcionistas, orientado pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão.

Aqui, percebendo o chamamento do Senhor, iniciou uma caminhada de entrega definitiva a Deus, consagrando-se na Ordem Terceira de S. Francisco, sob a orientação espiritual do Padre Raimundo, ele também frade franciscano vítima das expulsões dos religiosos pelo governo de então. Recebeu o hábito de Capuchinha em 1869, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus.

Em Portugal vigorava a proibição das Congregações Religiosas. A Irmã Maria Clara foi a Calais, na França, para aí fazer o seu noviciado e emitir os votos públicos.

Era urgente a fundação de um instituto genuinamente português para dar resposta às necessidades que a pobreza e todos os tipos de miséria que padeciam as pessoas.

Regressada a Portugal a 1 de Maio de 1871, deu início à Congregação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Fundou a primeira comunidade, em S. Patrício, em 3 de Maio daquele ano e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, a Congregação era aprovada pela Santa Sé.

A Congregação foi aprovada pelo Governo Português como Associação de beneficiência, a 22 de Maio de 1874.

Dotado de um coração transbordante de bondade e de ternura pelos mais pobres e abandonados, a Serva de Deus dedicou a vida inteira a minorar sofrimentos e dores. Encheu Portugal de Centros de Assistência, Atendimento e Educação, onde todos os desvalidos pudessem encontrar carinho, agasalho e amparo, qualquer que fosse a condição social.

Durante o tempo em que foi Superiora Geral, abriu mais de 100 obras e recebeu mais de mil irmãs.

Através dos seus membros, a Congregação procurava estar presente e actuante em todo o lugar onde houvesse o bem a fazer. No meio dos sofrimentos de toda a espécie: na solidão, na doença, na perseguição de que foi alvo, na incompreensão e na calúnia. A Madre Maria Clara soube manter-se sempre fiel a Deus e à missão que Ele lhe confiara. Viveu em constante serviço alegre e generoso a todos. Sem excepção. Desculpava e perdoava a todos, com caridade e fé heróicas. Àqueles de quem recebia maiores ofensas servia de joelhos.

Convicta de que "nada acontece no mundo sem permissão divina", tudo recebia como vindo das mãos de Deus: pessoas e acontecimentos, dores e alegrias, saúde e doença. A única razão de ser da Congregação deveria consistir em: servir, animar, acolher e aconchegar a todos. Iluminar e aquecer. A hospitalidade.

Viveu toda a sua vida numa esperança e confiança inabaláveis. Nada possuindo além do amor de Deus em Cristo Crucificado, que ela experimentava em todos aqueles a quem chamava a "minha gente".

Repousa hoje na Cripta da Capela da Casa Mãe da Congregação, em Linda a Pastora, onde acorrem inúmeros devotos a testemunharem as graças recebidas. O processo de canonização segue o seu curso, em Roma. É a fé no nosso Deus, glorificado na santidade daqueles que escolheram dizer sim com a vida.


salvé 15/6/2007 parabéns Mãe Clara!!!


Queremos seguir teus caminhos de luz
suaves, vibrantes e cheios de ser.
Na hospitalidade gerar só Jesus,
ser Clara nos gestos e ser no viver

2007-06-09


"Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para O ouvirem. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles». Jesus propôs-lhes, emtão, esta parábola:

«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido até a encontrar. Ao encontrá-la põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.» (Lc.15, 1-6)

Esta parábola, assim como as outras que se lhe seguem (dracma perdida e encontrada e o filho perdido e encontrado) situam-se no contexto de um conflito entrea elite religiosa judaica e Jesus. O seu objectivo é denunciar a atitude separatista dos fariseus em nome da pureza religiosa e justificar a atitude misericordiosa de Jesus para com os pecadores. Entre os fariseus, que se separam da gente comum para melhor praticar os mandamentos de Deus, e Jesus, que Se aproxima dos simples, dos doentes e dos pecadores em nome da misericórdia divina, quem é cumpre melhor a vontade de Deus?

Convém não esquecer este contexto polémico para compreender estas parábolas. Se fazemos destas parábolas, chamadas "da misericórdia", histórias consoladoras, edificantes e reconfortantes, tornámo-las insignificantes. É que elas não são consoladoras, mas provocantes e agressivas!

Habitualmente os comentários a esta história põem a tónica na pobre ovelha perdida que espera o seu pastor salvador. Nós somos esta ovelha perdida, mas felizmente Jesus vem salvar-nos! Bem está o que bem acaba! É uma leitura infan~til da parábola. Na verdade a história não atrai a nossa atenção sobre a ovelha perdida, mas sobre o COMPORTAMENTO DO PASTOR. A questão que se coloca aos fariseus e também a nós é: «Não faríeis vós o mesmo que este pastor, que abandona o seu rebanho no deserto para ir atrás da ovelha perdida?»

Efectivamente, a questão principal desta história é a atitude do pastor, que abandona noventa e nove ovelhas no deserto para ir atrás da que não quis fazer senão o que lhe apeteceu e se perdeu. Um "bom" pastor não abandona o seu rebanho no deserto! As ovelhas ficariam sem defesa contra os animais selvagens. Para salvar o seu rebanho, um pastor responsável preferiria sacrificar a ovelha perdida, tanto mais que já devia ter sido comida pelas feras. Jesus não nos pede que nos identifiquemos com a ovelha perdida, mas com o pastor. (...)

Suprimindo o conflito subjacente da parábola, desvirtuamos o seu sentido e apenas a recuperamos para justificar os nossos bons sentimentos. Ora bem, o que faz com que Deus seja Deus e não homem, é que não se comporta como os homens. La sabedoria humana ordena não abandonar as noventa e nove ovelhas no deserto para ir à procura do maldito animal que se perdeu! Para Deus, pelo contrário, basta que uma esteja perdida para que tudo esteja perdido. Para Ele não se trata de sacrificar uma só ovelha para salvar todo o rebanho, como sugeriu o sumo sacerdote Caifás no momento da prisão de Jesus (Jo.11, 49-53). É nisto que Ele mostra que é Deus e não apenas um homem. Quando alguém morre numa cruz, é a humanidade inteira que está perdida. Por este motivo não pode resignar-se a abandonar uma parte para não perder tudo e sacrificar uma só das suas ovelhas.

Assim, é fundamental que o ouvinte da parábola tome posição acerca da atitude que deve adoptar o pastor em tal situação. É a única maneira de conseguir imaginar, mesmo minimamente, os "sentimentos" que se aninham no coração divino. Só assim se pode compreender que o que confere valor à ovelha - à que está perdida e, por conseguinte, a todas as outras - é p preço que o Pastor lhe atribui e não os seus méritos ou obediência. SE A OVELHA PERDIDA É TÃO PRECIOSA, É PORQUE DEUS FAZ TUDO PARA SALVÁ-LA. Deus não ama os homens por causa do seu valor: eles têm valor, porque são muito importantes para Deus e não deixa de salvá-los.

Em vez de recriminar o seu Pastor, as noventa e nove ovelhas deveriam descobrir quanto valem para Ele, pois move céu e terra só para salvar uma delas. (...)

Vendo o que Deus fez para tirar o Seu Filho do buraco negro do túmulo, todos podemos ver o tipo de Pai que temos. Faz por cada um de nós o que fez pela Sua "ovelha perdida". Essencialmente é isto o que a morte de Jesus nos revela: não que o Pai sacrifique o Seu Filho para redimir os pecados dos homens, mas como é capaz de transformar as leis da natureza para para salvar Aquele que se perdeu em solidariedade com os publicanos e pecadores.

O que o Pai fez pelo Seu Filho está disposto a fazer por cada um de nós e é o que faz Jesus comendo com os pecadores. O que revela a grandeza infinita do homem é o amor incondicional que Deus lhe manifesta.

Por conseguinte, a nossa prática religiosa, a nossa justiça e as nossas virtudes não são o preço que temos de pagar para merecer o amor que Deus nos tem, mas pelo contrário. La maravilha divina, um escândalo aos olhos dos homens, é que Deus perde o Seu tempo abandonando no deserto as suas ovelhas fiéis, para ir à procura da que está perdida, porque, na verdade, nenhuma é fiel: todas estão perdidas!

Eis aqui quem é Deus para nós e quem somos nós para Deus e o que deveria encher-nos de alegria.

Esta parábola diz-nos que há uma igualdade fundamental de todos os homens perante Deus, sejam eles fiéis e virtuosos como os fariseus, ou pecadores e impuros como os publicanos. Não é a fidelidade e a obediência aos mandamentos de Deus que dá valor aos homens diante de Deus. Deus ama todos os homens como o SEU ÚNICO. CADA HOMEM TEM, PARA ELE, O PREÇO DO SEU FILHO ÚNICO.

Esta é a BOA NOTICIA que Jesus veio revelar-nos e que os fariseus não conseguiram compreender e aceitar, porque pensavam que reduzia a nada os seus esforços e virtudes. Tinham demasiado a perder se confiassem em Jesus.

E nós, que somos os discípulos de Jesus, somos muitas vezes parecidos com os fariseus: não compreendemos e murmuramos (na Bíblia, "murmurar" não é somente expressão de descontentamento, mas de falta de fé e negar-se a fazer a vontade de Deus), porque Deus nos abandona no nosso deserto para favorecer as pessoas sem fé e sem lei.


in "La Segunda Conversión - de la depressión religiosa a la libertad espiritual",

por André Gromolard

2007-05-26

a vida segundo o Espírito


"Aquele que ressuscitou Cristo dos mortos vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do Seu Espírito, que habita em vós" (Rm.8,11).


A vida segundo o Espírito é a vida que arranca da novidade da Ressurreição de Jesus e se projecta na ressurreição final.

"Em nome da Ressurreição de Cristo, a Igreja anuncia a vida, que se manifestou para além das fronteiras da morte, a vida que é mais forte que a morte" (DV 58).

Tal vida, porém, é a vida segundo o Espírito. "Unida ao Espírito Santo, a Igreja é consciente, mais do que ninguém, do homem interior, dos traços que no homem são mais profundos e essenciais, porque incorruptíveis. É neste nível que o Espírito enxerta a "raíz da imortalidade", da qual desponta a vida nova, ou seja, a vida do homem em Deus, que, como fruto da divina auto-comunicação salvífica no Espírito Santo, só pode desenvolver-se e consolidar-se sob a acção do mesmo Espírito" (DV 58).

"Deus, uno e trino ... ao comunicar-Se no Espírito Santo como dom ao homem, transforma o mundo humano a partir de dentro, a partir do interior dos corações e das consciências" (DV 58).

Quando o homem se deixa transformar, por docilidade ao Espírito, a partir do seu interior, faz a descoberta do que é e do que vale e, apartir daí, só entende a sua vida como abertura e doação a Deus e ao próximo. "Neste caminho, o Espírito Santo, consolidando em cada um de nós o "homem interior", faz com que o homem cada vez mais se encontre plenamente através do dom sincero de si" (DV 59).


A VIDA SEGUNDO O ESPÍRITO É VIDA EM GRAÇA, MAS COMPROMETIDA COM OS HOMENS


O que vive segundo o Espírito não está livre do peso da vida, da opacidade da exixtência terrena, das tribulações da dor e das angústias e da sujeição ao império da morte. O que vive segundo o Espírito assume sem lamúrias esta condição humana; compreende-a como pertencendo à sua estrutura criacional; acolhe a mortalidade e pequenez como vindas de Deus ("acolhei tudo como vindo das mãos de Deus" - dizia a Mãe Clara).Mas não organiza a sua vida em função da carne. Dá-se conta de um apelo maior: o mundo não pode definir o quadro final da sua vida nem fornece o sentido derradeiro do pulsar do coração. Somente Deus, a Quem chegamos atravessando a morte ("é morrendo que se vive") pode ser o descanso do coração inquieto. Por isso, o homem espiritual vê este mundo com os olhos da eternidade, a vida ultrapassando para além da morte, e a condição presente como ordenada à condição celeste ainda por vir ("no desânimo, lembremo-nos do céu e essa esperança nos alentará").

VIVER SEGUNDO O ESPÍRITO é viver filialmente face a Deus, na devota obediência à Sua vontade ("amemos a Deus e só a Deus"); fraternalmente com os irmãos ( "praticai a caridade com a maior perfeição") e senhorilmente frente ao mundo como um livre senhor e responsável pela recta ordem das realidades mundanas. Quem vive SEGUNDO O ESPÍRITO viverá sempre mesmo que passe pela morte, porque participa da FONTE DA VIDA que é Deus. À luz desta compreensão, Jesus podia dizer: "o Espírito é Quem dá a Vida; a carne para nada serve" (Jo.6,33). E Paulo redizia: "as tendências da carne são a morte, mas as do Espírito são a vida e a paz" (Rm.8,6).

A vida humana destina-se a ser O TEMPLO DE DEUS. O homem existe por causa de Deus e para Deus. Deus quer comunicar de tal forma a própria VIDA, que criou a vida humana para poder divinizá-la, o que equivale dizer, para fazê-la Sua. É então que Deus SE faz homem. E ao fazer-SE homem, Ele diviniza o homem.

A VIDA EM GRAÇA é vida segundo o Espírito. No homem trava-se uma luta e existe uma permanente tensão entre "a abertura à acção do Espírito Santo e a resistência e oposição a Ele, dom salvífico". "Os termos ou pólos contrapostos são aqui: da parte do homem, as suas limitações e pecaminosidade e da parte de Deus o Mistério do Dom, o incessante doar-se da vida no Espírito Santo" (DV 55).

O que será viver em graça?

É essencialmente isto: saber acolher o DOM. Da parte do Espírito, podemos ter a certeza que Ele "vem em auxílio da nossa fraqueza" (Rm.8,26).

A GRAÇA DE DEUS não é uma "coisa" colocada em nós. A GRAÇA é a própria Vida de Deus a circular na nossa vida, é Deus em nós. Abrir-nos a esta vida, fazê-la circular em nós, alimentá-la, orientar por Ela tudo o que somos e fazemos é a parte que nos é pedida como acolhimento de correspondência ao DOM. VIVER EM GRAÇA não é ter em si alguma coisa. É SER EM DEUS, é uma respiração divina.


de D. Manuel Madureira - in 15 Catequeses sobre o Espírito Santo

Notas a cor - Madre Maria Clara do Menino Jesus - in "Escuta"

2007-05-03

3 de maio de 1876 - 3 de maio de 2007 - parabéns!


Hoje é um dia grande na minha história pessoal, na história da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e... porque não dizer a verdade histórica! - na história do nosso país. E digo-o, porque são muitos os efeitos positivos na construção da sociedade portuguesa dos últimos 131 anos.

Vejam só algumas pequeninas "curiosidades" a provar o que afirmei.

Em 1856, a epidemia de cólera-morbus invadiu a cidade de Lisboa e grande parte do país, fazendo inúmeras vítimas entre todas as classes sociais. No ano seguinte... o terrível flagelo da febre amarela. Ora, o Reino viu-se confrontado com a necessidade de responder às necessidades urgentíssimas de uma tal situação, nomeadamente tratar dos órfãos, filhos desta tragédia.

Era rei D. Pedro V, que decidiu ceder parte do seu palácio da Ajuda e aí fundou o Asilo Real, que dava educação às filhas órfãs das famílias nobres e fidalgas de então.

O seu predecessor, D. Pedro IV, extinguira todas as casas religiosas por decreto de 30 de Maio de 1834. Daí que não havia Institutos Religiosos no país que ajudassem a minorar os efeitos da epiemia, D. Pedro V mandou vir as Irmãs de S. Vicente de Paulo, a quem "entregou" o supra referido Asilo Real da Ajuda.

Foi nesse colégio que Libânia do Carmo Mexia Galvão Telles de Albuquerque - a nossa Madre Maria Clara do Menino Jesus -, também ela órfã, fez a sua educação e formação.

Entretanto, a feroz perseguição orquestrada pela maçonaria - e que `^os o país em risco de guerra civil! - levou novamente à expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal e ao consequente encerramento dos Conventos e Casas Religiosas. Os seus bens foram "incorporados" na Fazendo Nacional. Confiscados, portanto. Os seus membro - aqueles que não fugiram para fora do país - foram condenados à "rua".

Foi neste contexto histórico que nasceu a Congregação, a CONFHIC. E nasce apenas e só pelo simples facto de haver alguém que continua a manter os olhos e o coração aberto aos outros e ao mundo.

É que ontem, como hoje (ao contrário do que se quer fazer crer), as respostas às necessidades sociais, incluindo a própria sobrevivência, não eram plenamente asseguradas pelos governos de turno. Só com a ajuda de pessoas com Evangelho de Jesus Cristo a correer-lhes nas veias é que se podia minorar tanta miséria. E foi o que aconteceu com a nossa protagonista, Madrre Maria Clara. Ela pôs-se à frente deste serviço/mistério que foi o de fazer de todos os pobres a SUA GENTE.

À custa de grandes dificuldades e sacrifícios, o Governo de então, lá aprovou a Congregação, mas com o estatuto de associação de beneficência, por um alvará de 22 de Maio de 1874.

Em 1876 conseguiu-se a aprovação da Santa Sé e a 3 de Maio do mesmo ano foi eleita Superiora Geral a Madre Maria Clara do Menino Jesus, em cerimónia que foi revestida de grande solenidade.

O Fundador, Padre Raimundo dos Anjos Beirão, pôs-lhe uma coroa de flores de laranjeira na cabeça, da qual pendia um cacho das mesmas flores até ao pescoço. Ao peito levava um amor perfeito, como símbolo do amor intensíssimo com que amava a sua Congregação. Essa coroa conservou-se como relíquia, mas foi destruída no meio das ruínas da revolução de 1910.
Refira-se a título de notícia que o processo de beatificação já deu entrada há alguns anos e as informações vindas de Roma dizem-nos que está "bem posicionado". Daí que, não por ela mas porque somos nós quem mais precisa, não nos cansemos de invocar a sua intercessão.

Hoje, somos nós, as suas filhas e filhos que prolongamos o rosto desta mulher, que fez da sua vida reflexo do verdadeiro rosto do Pai. Hoje é a festa de S. Filipe e de S. Tiago. E não é por acaso, até porque no dizer da nossa Mãe Clara "nada acontece sem permissão divina", que no Evangelho do dia Jesus, ao pedido de Filipe, Jesus responde: "Quem me vê, vê o Pai".

Que todos nós, para quem a Mãe Clara se tornou luz e modelo de vida, nunca nos cansemos de lhe pedir que nos mostre Jesus.

E que todos nós possamos dizer à semelhança de Jesus e salvas as devidas distâncias, quem nos vê, vê a Mãe Clara. Porque quem a via, via Jesus Hospitalidade.



2007-04-28


Donde brota a fonte deste vento

que me acende a alma?

Onde nasce a mão

que me modela a vida?

Vêm do regresso ao fundo do meu MAR.

2007-04-21

a quarta vigília da noite

"Pela quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles caminhando sobre o mar. Ao vo verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se. (...) Jesus falou-lhes dizendo: «Tranquilizai-vos! Sou eu. Não temais.» (Mt. 14,25)

A noite do judeu era dividida em quatro vigílias, das seis da tarde às seis da manhã. A quarta vigília corresponde ao período que vai das três às seis horas da manhã. Estas páginas destinam-se aos da quarta vigília, aos da terceira também, e quiçá aos da segunda, porque toda a vida é uma expectativa e uma preparação.



Uma certeza, uma convicção profunda devia acompanhar-nos sempre: ela dar-nos-ia a paz e o bem-estar espiritual e mental. É que o AGORA é o TEMPO FAVORÁVEL PARA MIM. Favorável para quê? Para ser feliz. E esse tempo é o SEMPRE para mim, cada instante da vida longa ou curta em que me é dado preparar uma felicidade maior e imorredoura.



Dizem que o tempo passa. Não, nós é que passamos por ele. E cada momento pode dar-nos uma fortuna, se entendemos bem o que ela é. Por isso podemos dizer que connosco estão "a riqueza, a glória e os bens duradouros" (Prov.8,18), se a cada momento vivermos em justiça (ajustados a Deus). E se quisermos levar este pensamento até ao fim, podemos dizer que a quarta vigília será para nós em venturosa serenidade, o que tiverem sido as vigílias antecedentes...



Hoje - o Kairos -, este AGORA que me é dado por Deus, para que o toque do Espírito que habita em mim tudo transforme em "ouro", tudo valorize e torne capaz de se transformar na moeda capaz de comprar a glória de Deus e a felicidade dos meus irmãos. Este "Kairos", "dia da salvação", é cada momento que passa, esse perene presente em que estou construindo uma eternidade bem-aventurada, o Reino de Deus, em união com todos os homens de boa vontade, que comigo esperam "os novos céus e a nova terra". Por isso não há idade. Estou começando hoje (e aqui revivo as últimas palavras de S. Francisco de Assis). Não tenho passado. O passado sou eu neste presente em que vivo. Ele criou-me. Em cada minuto plasmou-me para ser o que sou. Ele não me deixou. Mais ainda: para Deus, para Quem não há senão um eterno presente, eu sou a criança alegre e despreocupada de ontem, o adolescente que sonhou muito e lutou para se afirmar (e eu que o diga! ), o adulto que amou e sofreu (e no sofrimento aprendi a pedagogia do amor de Deus para poder amar os outros), que teve horas amargas e felizes, aquele que até ao fim procurou servi-Lo e amanhã deporá confiadamente o último alento em Suas mãos divinas. Para Deus, eu sou de todas as idades, com todo o meu esforço para ser bom ( e Deus deseja ardentemente poder usar de misericórdia amorosa para comigo, eu sei ), com todo o meu desejo de o servir e glorificar ( Isabel da Trindade diria: "ser um louvor de glória" ).
(...)
Teilhard de Chardin lembra-nos que "há um tempo para o crescimento e um tempo para a diminuição na vida de cada um de nós. A dado momento, a nota dominante é de esforço humano construtivo, em outro, é de aniquilamento místico".


Esse aniquilamento só se pode entender no sentido de crescimento para a plenitude em Cristo, "até atingirmos o estado de homem feito, à estatura da maturidade de Cristo" (Ef. 4,13). Isto é, a absorção em Cristo, "processo que alargará os nossos horizontes , arrancando-nos da nossa mesquinhez, impelindo-nos imperiosamente para uma visão sempre mais larga, para a renúncia de prazeres estimados, para o desejo de sempre maior beleza espiritual.



Se esse completo desprendimento de nós mesmos visa o dissolver-nos em Alguém muito maior do que nós, nã podemos pôr limites ao desenraizamento que representa essa viagem para a vida em Deus. Para os que procuraram ( e procuram ) sempre essa vida, a renúncia foi ( é ) voluntária e progressiva. "Importa que Ele cresça e eu diminua". Renúncia ascética, que a intimidade com Deus - que outra coisa é a vida mística ( serão os místicos que salvarão a beleza do mundo! ) - favoreceu, para nos perdermos n'Ele.

in "Na Alegria do Espírito" de Haroldo Rahm, sj
nota: as anotações entre parêntesis são minhas

2007-04-10

Jesus continuava calado - o verdadeiro grande silêncio




Se ainda existe disparidade de opiniões, sobre o papel e a atitude de vários personagens e poderes envolvidos na Paixão de Cristo, felizmente existe unanimidade sobre Ele e sobre a Sua atitude: dignidade sobre-humana, calma, liberdade absoluta. Nem um só gesto ou uma só palavra que ignore aquilo que pregou no Seu Evangelho, especialmente nas bem-aventuranças. E nada n'Ele que se asemelhe ao orgulhoso desprezo da dor do estóico.


A Sua reacção ao sofrimento e à crueldade é muito humana: no Getsémani, treme e sua sangue, gostaria que o cálice do sofrimento se afastasse, busca apoio nos Seus discípulos, grita a Sua desolação; na Cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»


(...)


Poderia passar-se a vida penetrando nesta perfeição da santidade de Cristo e não se chegaria nunca ao fundo. Na ordem ética, estamos diante do infinito. Não há memória de mortes semelhantes a esta, na história do mundo. É sobre a santidade do protagonista que é necessário parar-se, para meditar a Paixão, mais sobre a crueldade e a vileza de quem lhe está próximo. No "Novo millennio ineunte"o Santo Padre exorta-nos a contemplar o "rosto doloroso do Redentor". Aquele rosto, por si, é toda a Bíblia numa página.


Gostaria de evidenciar um traço desta grandeza sobre-humana de Cristo na Paixão: o Seu silêncio. «Jesus autem tacebat», isto é, "mas jesus continuava calado" (Mt. 26,63). Cala-Se diante de Caifás; cala-SE diante de Pilatos, que se irrita com o Seu silêncio; cala-Se diante de Herodes, que esperava vê-Lo fazer um milagre.


Jesus não Se cala por resolução tomada antecipadamente ou para protestar. Não deixa sem resposta nenhuma pergunta precisa que Lhe é dirigida, quando está em jogo a verdade, mas, também neste caso, são palavras breves, essenciais, pronunciadas sem raiva. N'Ele, o silêncio é todo e somente amor.


O silêncio na Paixão é chave para entender o silêncio de Deus. Quando a discussão se torna muito grande, o único modo de dizer alguma coisa é calar-se. O silêncio de Jesus, de facto, inquieta, irrita, traz à luz a não-verdade das próprias palavras, como quando se calou diante dos acusadores da adúltera.


in "Páscoa - uma passagem para aquilo que não passa", de Raniero Cantalamessa

2007-03-31

é este o tempo favorável - II


O TEMPO COMPLETO - A COMPREENSÃO DA BÍBLIA


No Novo Testamento, o Cairos tem um grande significado. O Cairos é o momento decisivo, no qual Deus oferece a felicidade às pessoas. Mas as pessoas não reconheceram o tempo da misericórdia. As primeiras palavras de Jesus, no Evangelho segundo S. Marcos, dizem o seguinte: «Completou-se o tempo (Cairos) e o Reino de Deus está próximo» (Mc.1,15). O tempo é sempre qualquer momento em que eu me encontro com Deus, em que Deus me queira mostrar a sua proximidade e oferecer a sua misericórdia e dedicação. O meu trabalho consiste em entrar neste momento e decidir-me pela proximidade terapêutica e amorosa de Deus, em vez de fugir de mim e de Deus para um tempo que apenas passa. O tempo completo é, segundo esta compreensão do tempo, convergente no tempo e na eternidade. É o tempo que é completo por Deus. Os místicos reflectiram sobre o preenchimento do tempo, principalmente o mestre Eckhart que, sobre este assunto escreve que o próprio Deus entrou no tempo e, por isso, o transformou. Através da Encarnação de Deus, adquiriu uma outra qualidade. O tempo deixou de ser apenas um bem raro, que as pessoas têm de aproveitar da melhor forma, para passar a ser um lugar em que as pessoas se reúnem com Deus. Quem vive o momento, no qual o tempo se preenche, fica preenchido por Deus, torna-se uma só pessoa com Deus, para quem o tempo permanece parado.

Na Segunda Carta aos Coríntios, Paulo cita o profeta Isaías: «No tempo favorável ouvi-te e, no dia da salvação, vim em teu auxílio» (2Cor.6,2; Is.49,8). E, de seguida, conclui: «É este o tempo favorável, é este o dia da salvação». Em grego diz-se: «É este o tempo tão aguardado (Kairos euprosdektos)». O «dektos» é aquilo que se pode aceitar, em que se encontra prazer, aquilo que é agradável. Para Paulo, o tempo agradável é aquele que está cunhado com p razer divino e com a presença de Deus.. É o tempo desejado, o tempo que impregna a minha`^ansia de felicidade e terapia, de salvação e redenção. Caracteriza-se por estar repleto de misericórdia, amor, terapia, totalidade, plenitude. Para Paulo, este tempo está marcado pela proximidade de Jesus. Jesus Cristo está ao nosso lado. Através dele, o tempo atinge a plenitude. (...) Daí que vivamos agora num tempo de misericórdia e de estima divina. Cabe-nos a nós acolher a estima de Deus e ser actuais, para podermos encontrar o Deus actual.


in Grün, Anselm, "Ao Ritmo do Tempo dos Monges", Col. Horizontes de Luz, Editora Paulinas

2007-03-30

é este o tempo favorável - I


CRONOS - O CRUEL PAI DO TEMPO

Os gregos tinham duas palavras para o conceito de «tempo». E ambas as designações se referem aos deuses. Isso mostra que, para eles, o tempo era um mistério divino; não se tratava de uma coisa puramente exterior, passível de ser medida com o relógio.
A verdadeira palavra para tempo era «chronos». Chronos relacionava-se com o deus Cronos, que é «o cruel pai do tempo». Cronos era filho de Urano e de Gaia. Libertou os irmãos do ventre da terra, para onde Urano repelira os recém-nascidos. Deste modo, viria a ser o chefe dos Titãs. Com a sua irmã Reia, Cronos procriou os deuses do Olimpo. Todavia, receando um sucessor humano, devorou os seus filhos. Reia conseguiu salvar apenas o filho mais novo, Zeus, entregando ao pai uma pedra envolta em faixas. Ao crescer, Zeus dominou o pai, para que este cuspisse os irmãos. Com a ajuda deles, Zeus subjugou Cronos e passou então a governar o destino dos homens, a partir do Olimpo.
Ao interpretar este mito, deparamo-nos com um importante aspecto do tempo. O tempo devora os seus filhos.
(...)

CAIROS - O DEUS DO MOMENTO CERTO

A outra expressão para tempo na tradição grega é «kairos». Cairos é o momento certo, a oportunidade, a utilidade, a medida certa. Os romanos apresentam o deus masculino Cairos como feminino, na forma de «occasio»: a oportunidade. O deus grego do momento certo tem asas nos pés ou nos ombros, quando é apresentado figurativamente. Caminha sobre os bicos dos pés ou encontra-se sobre rodas e oscila uma balança sobre uma lâmina. A sua cabeça é bastante interessante. Na testa, tem um tufo de cabelo. Em contrapartida, a nuca é careca. Com esta representação, os gregos pretendiam mostrar que se devem agarrar as oportunidades. O momento é efémero como mostra a nuca lisa. Quando o momento passa por nós a correr, não o podemos apanhar. Por isso, devemos encontrar o Cairos pela frente e agarrá-lo, mal ele surja. Para os pitagóricos, o Cairos é representado pelo número sete. Isso recorda-nos a história bíblica da Criação. O sétimo dia, em que Deus descansou, deixa transparecer esta qualidade, com que a antiga escola filosófica grega contemplou o Cairos.

in Grün, Anselm, "Ao Ritmo do Tempo dos Monjes", Col. Horizontes de Luz, Paulinas Editora

2007-03-17

"olho por olho, dente por dente" - «?»


"Teologia hoje - o papel das religiões na paz mundial" é o tema de fundo de uma série de conferências que se realiza este fim de semana na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, no Porto.
"OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE" foi, neste contexto, o tema tratado pelo Sr. Padre António Couto, Superior Geral dos
Missionários da Boa Nova e Professor Universitário naquela Instituição, esta manhã.
Por se tratar de um assunto de veras pertinente nos nossos dias, como é pertinente tudo o que se relaciona com as relações entre as pessoas e os povos, eis algumas das notas que tirei:

"Com esta expressão - olho por olho, dente por dente - estamos a falar da lei de talião (do latim = igual), segundo a qual o ofendido tinha direito a causar a quem o ofendesse um dano igual ao recebido. E não mais." A formulação desta lei encontra-se no Livro deo Exodo (21, 23-25) e a sua revogação por Jesus no Evangelho de Mateus (5, 38-40).

"Associada a esta lei está a ideia de barbaridade. Chega-se a pensar que o Antigo Testamento está repassado de barbaridade. Não é verdade!"

"A lei de talião não é exclusiva das páginas bíblicas. Aparece nas legislações do oriente próximo antigo muito antes da entrada dos povos de Israel na história. Encontramo-la em códigos egípcios, hititas e outros. E principalmente no Código de Hamurabi, 17 séculos antes de Cristo (cfr. parágrafos 196 e 197): a um dano causar-se-á igual dano. Trata-se de um freio à vingança desenfreada do mais forte. Não tem qualquer correspondência na "lei de Lamec" de Génesis 4, 23-24. Aqui há um desnivelamento dos danos; é a lei do mais forte, da brutalidade e da barbaridade, que não é a lei de talião". Refira-se que "ainda hoje esta lei (de lamec) vigora e o produto das guerras, ao longo dos séculos, traduz-se em cerca de 3 biliões e 700 milhões de mortos".

"Esta lei de talião é já um avanço civilizacional. Enquanto a lei do mais forte representa o nosso estado de natureza, a lei de talião representa as nossas convenções de razão."

Numa primeira fase, "no código de Hamurabi (parágrafos 198 e 199), a lei de talião dizia respeito só a homens livres: a classe de elite da sociedade de Hamurabi. Havia, ainda uma segunda classe, intermédia entre aquela e a dos escravos." Se as ofensas eram perpetradas em pessoas desta segunda categoria, "o agressor era condenado a pagar um preço" e "metade de um preço" no caso de a vítima ser um escravo.

"No Antigo Testamento, a lei de talião aparece nos três códigos legislativos mais importantes:

a) o código da aliança - Ex. 20,22.23,33;

b) o código deuteronómico - Dt. 19,21;

c) o código sacerdotal - Lv. 24,20."

"No Código da Aliança encontramos uma radicalização da lei de talião. Começa pela expressão "vida por vida". Alarga-se, aqui, a compreensão da vida de um homem: inclui a vida pré-natal. Continua a haver uma menos-valia para a vida de um escravo: "deixá-lo-á partir em liberdade".

"No Código Deuteronómico (dt. 19,16-21) alarga-se o valor da vida de um homem ao bom nome e à dignidade da vida humana. Atentar contra o bom nome é como atentar contra a vida."

"No Código Sacerdotal ou de Santidade (Lv.24,17-22), a lei de talião é alargada à vida humana na sua integralidade. Ser Humano = adam. Salta á vista o seu carácter universalista: aplica-se a todo o ser humano sem excepção (Lv. 24,22)."

"O COMPORTAMENTO DE JESUS, quer no ensino quer na prática, revela-se por uma plicação assimétrica da lei de talião. Jesus ultrapassa a tentativa de equilíbrio entre agressor e agredido. N'Ele encontramos um excesso de bondade, que é a única meneira de se pôr fim à violência. Jesus não remete para a NÃO-VIOLÊNCIA, porque, nesta, antes da não violência existe a violência. Jesus remete para o estado de criação: "no princípio não era assim."

"O TALMUDE coloca Deus a rezar e Deus reza assim:

- que a minha misericórdia vença a minha ira (...) para que Me porte com indulgência para com os meus filhos."

"Jesus opta por este procedimento: a misericórdia. Pela entrega radical aos outros, mesmo aos violentos, e pelo perdão radical. O que é que isto significa? Fraqueza? Impotência? Incapacidade? Ou é uma desarmante soberania?! Revela a soberana liberdade interior de quem não se deixa envolver pela violência dos adversários. Por amor de quem o ofende, Ele responde com a entrega total, desmontando por completo aquela violência."

"Este o caminho feito pela lei de talião até Jesus. Jesus vem anular a violência pela soberania da misericórdia. No ciclo de conferências "Igreja e Missão", um teólogo dizia que os cristão em todo o mundo são quase dois biliões de pessoas. E perguntava: o que seria este mundo se todos os cristãos praticassem a lei da misericórdia. Aqui sou eu que levanto a questão: se quase todas as religiões do mundo contemplam a misercórdia, se todos os seus crentes a praticassem, o que seria este mundo?"


Esta foi a pergunta que o Sr. Padre António Couto nos deixou. Eu atrever-me-ia a afirmar que cairiam todas as regras da economia e muitos países iriam à falência. Quem dera que fosse já a seguir!!!

2007-03-10

"pecado que Deus denuncia com mais força é hipocrisia"


Chamou-me a atenção, pela actualidade e pela "velhice" (parece que o interior do homem se mantém na idade da pedra lascada!), a notícia que encontrei na agência zenit.org. Eis alguns pontos que achei mais relevantes e exigentes:

Diz ela que na primeira pregação da Quaresma ao Papa e à Cúria, "na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, no Vaticano, o Pregador da Casa Pontifícia centrou-se nas Bem-Aventuranças evangélicas.

"Entre elas, esta: «Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus». E esclareceu equívocos," continua aquela notícia. "Remetendo-se ao Evangelho, «o que decide a pureza ou impureza de uma acção é a intenção: se a pessoa faz para ser vista pelos homens ou para agradar a Deus».

E continua: «Na realidade, a pureza de coração não indica, no pensamento de Cristo, uma virtude particular, mas uma qualidade que deve acompanhar todas as virtudes, para que sejam verdadeiramente virtudes e não "esplêndidos vícios"; por isso, seu contrário mais directo não é a impureza mas a hipocrisia», assinalou o Pe. Cantalamessa."

"Esse é o pecado que Deus denuncia com mais força ao longo de toda a Bíblia, porque com a hipocrisia «o homem rebaixa Deus, situa-O em segundo lugar, colocando no primeiro as criaturas, o público», prosseguiu."

"Dessa forma, «a hipocrisia é essencialmente falta de fé, mas também falta de caridade para com o próximo, no sentido de que tende a reduzir as pessoas a admiradores».

«Nunca se fala da relevância social da bem-aventurança dos puros de coração, mas estou certo - afirma - de que esta bem-aventurança pode exercer hoje uma função crítica entre as mais necessárias na nossa sociedade, pois trata-se do vício humano talvez mais difundido e menos confessado».

O Padre Cantalamessa enfatizou que a hipocrisia afecta as pessoas religiosas por um simples motivo: «onde mais forte é a estima dos valores do espírito, da piedade e da virtude, lá é mais forte também a tentação de ostentá-los para não parecer privados deles».

Mas existe «um meio simples e insuperável para rectificar várias vezes ao dia as nossas intenções. Jesus deixou-o nas três primeiras petições do Pai Nosso». «Elas podem ser recitadas como orações, mas também como declarações de intenção: tudo o que faço, quero fazê-lo para que seja santificado o Vosso nome, para que venha o Vosso reino e para que se cumpra a Vossa vontade».

«Seria uma belíssima contribuição para a sociedade e para a comunidade cristã se a bem-aventurança dos puros de coração nos ajudasse a manter desperta em nós a nostalgia de um mundo limpo, verdadeiro, sincero, sem hipocrisia - nem religiosa nem leiga -, um mundo onde as acções correspondem às palavras, as palavras aos pensamentos e os pensamentos do Homem aos de Deus», concluiu."


E esta, hem?!

"um cristão de joelhos enxerga mais do que um filósofo na ponta dos pés"

2007-03-03

"quaresma com vocação de Páscoa"


Apenas uma pequena partilha de um texto que partilharam comigo, mas só sei que o autor é o Padre M. Morujão, s.j. Aqui vai...
"Mais uma vez, atentos seguidores de Cristo, vamos entrar na quarentena de preparação para a Páscoa. Cristo também teve a Sua quaresma quando, "impelido pelo Espírito, foi para o deserto, onde esteve durante quarenta dias e quarenta noites, jejuou e foi tentado pelo demónio" (Lc. 4,1).
Passados quase dois mil anos, que podemos nós tirar como fruto desta etapa da vida do Salvador que vamos reviver? Quaresma... jejum... penitência... cruz... não serão palavras pouco simpáticas aos tímpanos de hoje, realidades que destoam no nosso mundo? De facto, assim acontece. Mas urge por em relevo o positivo destas realidades.
Quaresma, o que vem a ser? Vivida ao jeito cristão, ela não pode deixar de ser uma etapa positiva de crescimento. Vejamos como.

Quaresma=tempo de penitência. É uma igualdade que espontaneamente estabelecemos. Mas que penitência? Não vou inventar novos conselhos. Vou repetir velhos, mesmo já com séculos de idade. Mas cheios de actualidade.
Alguns séculos antes de Cristo, o povo hebreu tinha caído numa onda de formalismo, cumprindo a lei só de fachada. As obras até aparentavam bondade. Davam-se mesmo a práticas de penitência. Mas, no fundo, vinham de um coração sem amor. E os profetas (os profetas sempre foram muito incómodos!) punham o dedo na ferida, indicando claramente que assim não se podia continuar: "Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida no alto" (Is. 58,4).
É que a penitência, o jejum, não é questão de um bocado a menos de pão, de cobrir-se com cinza ou de rasgar os vestidos. É um amor prático que não pode deixar de se traduzir em sinais externos: "o jejum que Eu aprecio é este - oráculo do Senhor Deus: abrir as prisões injustas; desatar os nós do jugo; deixar ir livres os oprimidos; quebrar toda a espécie de jugo; repartir o pão com o esfomeado; dar abrigo aos infelizes sem asilo; vestir o nu e não desprezar o irmão" (Is. 58, 6-7).
Ou seja: a melhor penitência são as obras de misericórdia; o jejum ideal é o amor prático e concreto. Tudo o que fizermos, como penitência, é para nos levar a este termo.
(...) A penitência é um corrigir da nossa linha de vida, da marcha dos nossos passos. Frei António das Chagas (séc. XVI) fala-nos da penitência como de um "atalho brevíssimo" para nos aproximarmos dos caminhos de Deus. (...) "A cruz é a escada do céu" - diz-nos o santo Cura d'Ars. E, por isso, "deveríamos correr atrás da cruz como um avaro corre atrás do dinheiro". Que conselho tão oportuno! Ser avaro da cruz, do tempo da Quaresma, porque é escada para a Páscoa da Ressurreição.
Não deixemos passar esta quaresma em vão. É que "é agora o tempo favorável, é agora o tempo da salvação" (2Cor. 6,2)! (...) Cristianizemos a nossa Quaresma, vivendo-a na esperança cristã de ressuscitarmos com Crist. Para uma vida melhor. Aproveitemos esta Quaresma com vocação de Páscoa!".

2007-02-22

Bem-vindo, Senhor Bispo!

Foi com muita alegria que acolhi a notícia da nomeação de D. Manuel Clemente como Bispo do Porto. Seja bem-vindo Senhor Dom Manuel Clemente! Desejo e peço ao Senhor nosso Deus que este Sim seja mais uma consequência da fidelidade ao SIM PRIMEIRO. Obrigada pelo espírito de disponibilidade e serviço com que se propõe, também, acolher-nos. Que o Senhor o abençoe.

2007-02-21

"laicismo e laicidade"

Nas minhas e-andanças pelo mundo, mais concretamente no sítio da Agência Zenit , deparei-me com uma carta pastoral, a 9.ª, do Bispo de Querétaro, Estado do México, que aborda a tão actual questão entre laicismo e laicidade. Precisamente nestes tempos em que o nosso Estado parece que se empenha esforçadamente em criar uma nova "religião", que faz questão de contrapor à Religião Católica. Estamos perante conceitos e realidades que, em virtude de uma certa ignorância voluntária e comodista por parte dos católicos, não têm sido de forma nenhuma objecto de esclarecimento e formação. De que lado estamos nós, os católicos? Ser católico é assumir por inteiro, consciente e coerentemente, a doutrina da Igreja Católica, o Evangelho de Jesus Cristo, até às últimas consequências. Estranho que haja da parte dos católicos, incluindo a hierarquia da Igreja Católica, como que um certo complexo em dizer-se homens e mulheres, cidadãos do mundo, com todos os direitos e deveres constantes das Convenções Internacionais como próprios da dignidade humana. Ainda não vi nem ouvi em nenhuma parte nem em nenhum momento, que os cidadãos que optaram por integrar as Instituições Eclesiásticas, quer através do sacerdócio, quer da vida religiosa, quer assumindo-se como Baptizados comprometidos na Igreja e na sociedade de que fazem parte, do mesmo modo que outros fizeram as suas opções de vida, sejam discriminados quanto à titularidade e exercício desses direitos. Ou só são considerados cidadãos em pleno no que toca ao pagamento de impostos? Ou no que toca a "julgamentos sumários" de que são vítimas, como quem aponta que "o rei vai nu"! E a verdade é que este "rei que vai nu", no entender de muita gente "de bem", dá de comer a muita outra gente. E agora eu pergunto: e se a Igreja Católica através das suas muitas instituições e dos crentes fizesse greve?!
Aqui transcrevo uma parte da carta pastoral do supra citado Bispo do México, carta que "foi já considerada profética", entendendo-se a palavra na acepção que ela tem para nós cidadãos que somos crentes.

"C. Os fiéis católicos leigos

O Decálogo, património da Humanidade

29.
O leigo católico respeita e proõe-se salvaguardar e cumprir a lei moral natural, comum a todas as grandes religiões. Esta lei natural não se identifica com nenhuma crença religiosa em particular, nem sequer com a religião católica ainda que esta a proclame em toda a sua integridade e a defenda com particular empenho. A expressão privilegiada desta lei natural encontra-se no Decálogo (Cf. Catecismo, n.º 2070), que também foi objecto de revelação da parte de Deus no Monte Sinai e foi aperfeiçoada por Cristo no Sermão da Montanha; mas, esta revelação do Sinai a Moisés e o aperfeiçoamento evangélico de Jesus, não lhe mudam a sua natureza fundamental de expressão da lei natural, comum a toda a humanidade, gravada antes que em tábuas de pedra no coração do Homem e que obriga em consciência a todos e em todas as partes, quer dizer, sempre.
A observância desta lei natural, aceite por todas as grandes religiões do mundo, é de tal modo transcendente que dela depende, por caminhos que só Deus conhece, a salvação eterna de todos os homens sem distinção; esta é a razão pela qual a doutrina católica admite a possibilidade de salvação para quem cumpra cabalmente esta lei natural. ainda que se encontre, sem culpa sua, fora do âmbito visível da Igraja (cfr LG, 16). O Decálogo constitui um património precioso da humanidade, que lhe permitiu sobreviver apesar das barbaridades perpetradas por ditadores de toda a espécie. Em resumo, o católico participa na política guiado pelo Decálogo e não pelas Bem-Aventuranças; mas se vive em conformidade com estas, acrescenta à vida em sociedade o perfume do Evangelho.

É um direito, não uma intromissão

30. É, portanto, um direito e um dever dos fiéis católicos leigos, como de todo o cidadão no pleno uso da razão e responsável, defender os valores e as virtudes morais naturais como são a justiça, a verdade, a liberdade, a honra, a lealdade, a solidariedade, o respeito pela pessoa humana, a paz, etc.; e esta participação não pode qualificar-se, por nenhum motivo, com intromissão da Igreja no âmbito dos governos, dos partidos políticos ou da educação. Trata-se de um profundo chamamento da consciência cristã à coerência entre aquilo em que se crê e o que se faz, entre a fé e a vida; é uma experiência intrínseca à própria fé e não provém de uma imposição externa, se bem que é dever do Magistério eclesiástico recordá-lo com frequência. Negar ou limitar, portanto, aos Pastores da Igreja este dever de ensinar e recordar aos fiéis as suas obrigações é uma intromissão indevida do Estado no espeço moral e espiritual que não lhe diz respeito. Igualmente, pretender afastar os católicos da vida política ou do âmbito do ensino pelo facto de se afirmarem como crentes e de serem coerentes com a doutrina da Igreja no ensino da lei natural, é uma forma de laicismo intransigente e discriminador. Seria negar relevância política e cultural à fé católica e ao cristianismo em geral, o que é inadmissível. Ao querer impedir os católicos de participar plenamente na construção do bem comum, o Estado empobreceu-se e os crentes ficaram prejudicados na sua condição de cidadãos ao ver-se limitados nos seus direitos e na sua dignidade. La separação entre a fé que professamos e a vida quotidiana de muitos deve ser considerada como um dos erros mais graves do nosso tempo, recordava aos Bispos do México o Papa Bento XVI durante a visita ad limina (15 Set. 2005)."

2007-02-17

"os bens da terra para todos"

"850 milhões de crianças são vítimas da fome, da exploração laboral, do tráfico de menores, da prostituição, da sida;
20 milhões de crianças nascem e crescem em campos de refugiados;120 milhões são "meninos da rua"; 171 milhões, entre os 4 e os 14 anos, trabalham em condições que colocam em risco a sua saúde;
cada 5 segundos morre uma criança de fome;
apenas 7% das crianças são registadas ao nascer no Bangladesh;
dos cerca de 550 milhões de sul-americanos, 220 milhões são pobres e uns 100 milhões vivem com menos de 0,80 € por dia e mais de 150 milhões sobrevivem em bairros de lata, sem as mínimas condições para uma vida digna."
(in revista Mensageiro do Coração de Jesus de Fevereiro 2007)

E eu? Qual é a minha postura relativamente a estes dados? Será que estas pessoas não passam de números? Como é que exigimos que os governos das nações sejam verdadeiramente nossos representantes... o prolongamento das mãos de cada um de nós?

2007-02-13

procura da sabedoria

"Meu filho, não esqueças os meus ensinamentos, e que o teu coração observe os meus preceitos, porque eles te darão longos dias e anos de vida, eles te alcançarão a paz.
Não te abandonem a misericórdia e a fidelidade: prende-as ao teu pescoço, grava-as na tábua do teu coração e encontrarás favor e bom êxito aos olhos de Deus e dos homens. Confia no Senhor de todo o coração e não te apoies na tua inteligência; procura reconhecê-l'O em todos os teus passos, e Ele aplanará os teus caminhos. Não sejas sábio a teus próprios olhos, teme antes o Senhor e afasta-te do mal"

(Provérbios, 3, 1-7)

2007-02-10

às quintas na Consolata: os meus lava-pés e lava-mãos...

"(...) Os fariseus e alguns doutores da Lei vindos de Jerusalém reuniram-se à volta de Jesus, e viram que vários dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. (...) Perguntaram-Lhe, pois, os fariseus e doutores da Lei: «porque é que os Teus discípulos não obedecem à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?»
Respondeu: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu: este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. (...) Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.» (...) Chamando de novo a multidão, dizia: «Ouvi-me todos e procurai entender. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. (...) Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições, preversidades, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. Todas estas maldades saem de dentro e tornam os nossos corações impuros.»
in Mateus 7, 1-22"

Senhor,
que os lava-pés e os lava-mãos que me proponho praticar sejam precedidos da lavagem e purificação do meu coração;
que os lava-pés e lava-mãos que, simbolicamente, integram as minhas orações e celebrações sejam o reflexo verdadeiro dessa pureza do meu coração. Amén

2007-02-06

que cultura cultivamos?

"Matar o ser humano (eu diria a vida que, não por acaso, até é humana!), no qual está presente a imagem de Deus, é pecado de particular gravidade. Só Deus é dono da Vida!"
(João Paulo II, Evangelium Vitae, n.º 55)
"A rejeição da vida do Homem (e eu voltaria a dizer: da vida humana), nas suas diversas formas, é realmente uma rejeição de Cristo"
(João Paulo II, Evangelium Vitae, n.º 104)
Ontem, na TSF, escutei uma entrevista feita a um médico, homem dito da ciência na área da ginecologia, a explicar que para a ciência mundial a vida humana começa no momento da fecundação. Explicou em que momento da vida do feto se começam a esboçar os diversos órgãos, mas "esclareceu" os não doutos (esta é minha!) que só a partir dos 6 - 7 meses é que aquela vida adquiria consciência. Portanto, disse, até aí "ainda não há pessoa humana.
Eu pergunto, aliás, na minha ignorância (que não considero douta) quais são as provas científicas que a ciência mundial tem da existência da consciência? Em que espécie de microscópio terá visto a ciência mundial o aparecimento da consciência? E o que é a consciência para a tal douta ciência mundial?
A partirmos destes parâmetros, então também não temos pessoa humana num doente mental profundo! E também não temos pessoa humana num doente em coma! E também não temos pessoa humana nos idosos, relativamente aos quais, a idade avançada lhes traz as nossas tão conhecidas doenças ... as demências originadas pela senilidade. Doenças que as faz terem comportamentos dos quais não as podemos responsabilizar. Também não temos pessoa humana nos que estão alcoolizados ou drogados em último grau (para colocar a hipótese mais extrema da alienação)! Para que é que a sociedade gasta tanto dinheiro com estas "coisas" que ora são pessoas humanas e logo deixam de ser? Para que é que os portugueses pagam tantos impostos, se o ter consciência (a tal da ciência mundial!) é que nos transmite a qualidade de humanos ou não? Daqui para o futuro, a acreditar em todas estas teorias (sim, na minha opinião, não passam de simples teorias, muito distantes da VERDADE-VERDADEIRA do que é ser um SER HUMANO).
Deixemo-nos de filosofias e passemos à verdade de fundo que está em causa neste referendo. Sem medos. Verdade que todos os portugueses, sejam eles pelo sim ou pelo não, conhecem muito bem. Não tenhamos medo de assumirmos a responsabilidade de sermos em verdade PESSOAS HUMANAS, desde o primeiríssimo instante da nossa vida. Isso traz consequências para a sociedade? Obriga-nos a sermos responsáveis uns pelos outros? Não mais poderemos fechar os olhos ao nosso irmão? Pois. É isso mesmo. Entremos nessa maravilhosa AVENTURA que se hama PESSOA HUMANA!

como a palmeira


Como a palmeira, florescerá o justo,
elevar-se-á como o cedro do Líbano.
Plantados na casa do Senhor,
nos átrios de nosso Deus hão-de florir.
Até na idade avançada eles darão frutos,
continuarão cheios de seiva e verdejantes,
para anunciarem quão justo é o Senhor,
meu rochedo, e como não há n'Ele injustiça.

(salmo 91)


Nessa visão construtiva e confiante, o homem não pode fugir à responsabilidade de se valorizar ao máximo, em cada etapa (da sua existência), para que o mundo se valorize com ele. À medida que, inevitavelmente, diminuem as forças físicas, não só é possível, mas é dever, tornarmo-nos cada vez mais fortes e valorosos moralmente,cada vez mais belos e jovens aos olhos de Deus.
in "Na Alegria do Espírito" de Harold Rahm, sj


Fasfhic Amarante - 4/2/07

salmo do sim de Maria

Maria, Mãe do Sim,
o Teu exemplo admira-me.
Admira-me, porque arriscáste a Tua vida;
admira-me, porque não olháste para os Teus interesses,
mas para os do resto do mundo;
admira-me e dás-me exemplo de entrega a Deus.
Eu queria, Mãe, tomar o Teu exemplo
e entregar-me à vontade de Deus, como Tu.
Eu queria seguir os Teus passos,
e, través deles, aproximar-me do Teu Filho.
Eu queria, Mãe, ter a Tua generosidade e entrega,
para nunca dizer não a Deus.
Eu queria, Mãe, ter o Teu amor,
para ser sempre fiel ao Teu Filho.
Mãe do Sim,
pede ao Teu Filho por mim, para que me dê a Tua força.
Pede ao Teu Filho por mim, para que me conceda
um coração enamorado d'Ele.
Pede ao Teu Filho por mim, para que me dê
a graça necessária e nunca lhe falhar.
(desconheço o autor)

2007-01-27

Ordem do dia 1- aborto sim/aborto não

Escutei na RR, no programa de António Sala, a entrevista com o Sr. Padre Vítor Feitor (não sei se é assim que escreve) Pinto, em que uma das questões - como não podia deixar de ser! - teve a ver com o problema que a nossa sociedade vive hoje que é o do ABORTO SIM/ABORTO NÃO. Eis o excerto com o qual eu concordo plenamente:
- "O problema do aborto é um problema ético e civilizacional e não um problema religioso nem político-partidário".
- Hoje "vivemos a chamada ética contratualista". No entanto "há valores que não podem ser" objecto de contrato. "Uma coisa que não poder ser" objecto de contrato "é o direito à vida. O direito à vida é o primeiro direito consignado no art. 24.º da Constituição da República Portuguesa. Também refiro o parágrafo 9 da Convenção dos Direitos da Criança que fala na defesa da vida antes e depois de nascer. É o (...) documento oficial que fala no "antes" de nascer. A vida humana tem um ciclo vital, desde o zigoto até á morte. E o papel da medicina é dar qualidade a esta vida. De contrário, nem está com o Direito nem com a vida".

Eis-me


Eis-me, Senhor.
Cheguei.
Vim para estar contigo,
como quem se senta à beira mar,
à espera da onda sempre nova.
Sempre viva.
Sempre em flor.

Abre o meu coração aos Teus segredos,
que são como o sorriso do melhor Amigo.
Vem à minha praia
e conta-me como quem sussurra
todos os Teus sonhos de felicidade para mim.

Abre o meu ser ao Teu olhar
e purifica-o.
Quero ser a forja
onde o Teu querer se faz fogo.
Amén.

2007-01-23

Conciliar educação-evangelização?

Apenas algumas notas que tirei da comunicação do Prof. Dr. João César das Neves, na acção de formação que a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras promoveu no passado dia 20/1/2007, no Colégio de Nossa Senhora da Bonança, sob o tema
"MUTAÇÃO CULTURAL E EVANGELIZAÇÃO".
A comunicação foi introduzida pela Ir. Cidália Araújo, Conselheira Provincial, referindo como pano de fundo a HOSPITALIDADE PRIMORDIAL pela qual nos movemos, afirmou que "educar, e educar cristamente, é educar para a vida. (...) A educação cristã, sem perder nada do coeficiente humano, é uma missão aberta ao valor profundo e sentido último da vida".
Da comunicação do Prof. Dr. João César das Neves, que dividiu o dia em duas partes, retirei as seguintes notas, sendo que é importante referir que os sublinhados são meus e espelham a ressonância que a reflexão teve em mim.
MAS VEJAMOS:
I PARTE
A partir da afirmação que a educação é diferente de ensino, esclareceu que enquanto o "ensino consiste em aprender informação e desenvolver capacidades, a educação trata da construção da personalidade e do carácter." Reflectiu que "a formação do carácter, de vez em quando, é feita na escola. Ela é feita sobretudo "na" televisão, nos recreios, nos jogos de futebol..."
E o que é o ensino?
"Falar do ensino é falar de duas coisas: de um CONTEÚDO e de um MÉTODO".
"Quando falamos de um CONTEÚDO estamos a falar de uma linguagem e de uma civilização/humanidade". "Devemos enquadrar os nossos alunos no tempo em que vivemos, dar-lhes as bases do conhecimento humano."
Quando nos referimos ao MÉTODO, devemos partir do pressuposto que este "é muito mais importante do que a questão do conteúdo. Consiste em ensinar os nossos alunos a ter uma mente ordenada e curiosa. A par de ensinar a trabalhar."
DOS PROBLEMAS que e escola de hoje, em Portugal, apresenta, temos a "questão da mente ordenada". Partiu da leitura de um texto extraído do primeiro livro de Sherlok Holmes, em que se narra o seu encontro com Watson, para concluir que a afirmação "o saber não ocupa lugar" não corresponde à verdade. "O saber ocupa lugar, ou seja, a nossa capacidade de compreensão e de retenção é limitada."
Aqui fez-nos "ir" a S. Tomás de Aquino para nos dizer que "a estudiosidade é diferente da curiosidade. Falar da curiosidade é falar da procura do conhecimento, sem qualquer ordem. É fundamental ensinar os alunos a lidar com as informações: devemos aprender a seleccionar, primeiro, o que nos interessa a nós e, depois, aos nossos alunos".
"É fundamental ordenar a mente; ensinar pouco e bem". O contrário leva-nos a afirmar que "temos doutos ignorantes, ou seja, doutos que têm muita informação, mas não sabem coisa nenhuma."
"No PENSAR A EDUCAÇÃO, "há um debate hoje: a diferença entre ESTRUTURAÇÃO e CRIATIVIDADE."
"Falar de estruturação "é tratar da forma como estruturar e esquematizar a informação. Nisto assentava a política de educação no antigamente".
"A criatividade leva-nos à originalidade, a ter uma atitude artística perante a realidade. HOJE a educação assenta predominantemente (se não essencialmente) nesta única dimensão." Ora, "na atitude do Homem perante o Mundo há estas duas realidades. E o problema é que estas duas realidades são necessárias: umas vezes precisamos de ter um espírito mais analítico, outras, um espírito mais criativo. Há aqui a necessidade de compreender que estas duas forças são necessárias: o ser humano vive na fecundidade que precisa de ser ordenada. Dado que os programas educativos preferem o primado da criatividade, nós, professores, temos de encontrar um equilíbrio na sala de aula."
Para ilustrar a questão que se levanta entre CONTEÚDO E MÉTODO, o Dr. João César das Neves usou o texto do livro "Tom Sawyer (?) na passagem em que o protagonista recebe da tia o castigo de pintar a cerca do jardim e a e este transforma o castigo num divertimento. De tal maneira que quem cumpre o castigo são os amigos, que até lhe pagam para isso."
E CONTINUA:
"Hoje, os nossos métodos pedagógicos" (aqueles que o sistema preconiza) "devem conduzir ao divertimento. Isto (esta concepção) conduz ao limite dramático de considerarmos que se há trabalho, então estamos perante um defeito. Daí a tendência a escolher-se uma carreira que nos faça felizes. E, então, chegamos à situação caricata de vermos pessoas a saltar de trabalho em trabalho, porque trabalhar não é um divertimento, mas um sacrifício.Então, porque "não estou no meu lugar", mudo de trabalho... ou profissão... ou de carreira..." É fundamental passar aos alunos a informação que as dificuldades fazem parte da formação."
"A EDUCAÇÃO tem muito pouco a ver com o ENSINO. Nós, professores, somos um dos agentes educadores dos nossos alunos. A televisão é outro. E os pais também. Cada um dos agentes - pais e professores - tem de assumir o seu papel, porque a educação deve ser treinada. Na educação os gostos discutem-se. Hoje, a educação faz-se pouco na escola, porque os alunos estão na escola obrigados".
"A EDUCAÇÃO é a formação da personalidade e, por isso, é preciso ter em atenção TRÊS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS (e isto vale para qualquer educação):
1 - A TRADIÇÃO - a cultura: a pessoa é sempre educada dentro de uma cultura. Sem uma cultura não há educação.
2 - A VIVÊNCIA - a educação é feita dentro de um quadro de relação - de pessoa a pessoa - em que há o confronto com a vida "daquela pessoa" e o desejo de querer ser assim: o confronto com uma pessoa ideal.
3 - A CRÍTICA - a educação faz-se sempre na crítica, para saber o que se está a receber. Só somos, realmente, educados, quando constatamos uma coisa e a aceitamos. É um começar por pôr em dúvida para, depois, aceitar."
"Hoje, estes três elementos andam muito confusos", o que nos leva à percepção dos "PROBLEMAS DO NOSSO TEMPO":

I - "O nosso tempo não defende a tradição, a cultura, mas a tolerância, que quer dizer: a afirmação que tudo é igual. Isto é a anulação da cultura. É a destruição da educação. A tolerância não é respeito pela diferença. Devemos dar abertura à crítica, mas só é possível criticar quando se tem alguma coisa á partida. Não se pode viver sem uma tradição. Hoje, o domínio do mais forte é o daquele que tem mais sedução, como por exemplo, a televisão..."

II - "Ao contrário de uma vivência, dá-se uma ciência. Imaginem só: quando o bébé nasce, a primeira coisa que se leva para casa é um livro sobre bébés. E ficamos aflitos quando a pessoa bébé não se encaixa na ciência sobre o que deve ser o bébé. Tem que encaixar... se não... há um defeito qualquer...Hoje criam-se espectadores, pessoas que se sentam num muro a ver passar o mundo. A ciência é fundamental, mas não podemos deixar que ela mate a vida. As vidas confrontam-se sempre."

III - "Em vez de se educar numa crítica, educa-se numa sedução. Queremos atrair os nossos alunos como único objectivo. Se nós educarmos os nossos filhos para a sedução, vamos fazer deles clientes e o "cliente tem sempre razão". Hoje os filhos são mais clientes dos pais, do que seus filhos e isto anula a capacidade de escolha."

Por hoje fico-me por aqui, porque não podemos interiorizar tudo de uma vez. Até amanhã!!!