2007-04-10

Jesus continuava calado - o verdadeiro grande silêncio




Se ainda existe disparidade de opiniões, sobre o papel e a atitude de vários personagens e poderes envolvidos na Paixão de Cristo, felizmente existe unanimidade sobre Ele e sobre a Sua atitude: dignidade sobre-humana, calma, liberdade absoluta. Nem um só gesto ou uma só palavra que ignore aquilo que pregou no Seu Evangelho, especialmente nas bem-aventuranças. E nada n'Ele que se asemelhe ao orgulhoso desprezo da dor do estóico.


A Sua reacção ao sofrimento e à crueldade é muito humana: no Getsémani, treme e sua sangue, gostaria que o cálice do sofrimento se afastasse, busca apoio nos Seus discípulos, grita a Sua desolação; na Cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»


(...)


Poderia passar-se a vida penetrando nesta perfeição da santidade de Cristo e não se chegaria nunca ao fundo. Na ordem ética, estamos diante do infinito. Não há memória de mortes semelhantes a esta, na história do mundo. É sobre a santidade do protagonista que é necessário parar-se, para meditar a Paixão, mais sobre a crueldade e a vileza de quem lhe está próximo. No "Novo millennio ineunte"o Santo Padre exorta-nos a contemplar o "rosto doloroso do Redentor". Aquele rosto, por si, é toda a Bíblia numa página.


Gostaria de evidenciar um traço desta grandeza sobre-humana de Cristo na Paixão: o Seu silêncio. «Jesus autem tacebat», isto é, "mas jesus continuava calado" (Mt. 26,63). Cala-Se diante de Caifás; cala-SE diante de Pilatos, que se irrita com o Seu silêncio; cala-Se diante de Herodes, que esperava vê-Lo fazer um milagre.


Jesus não Se cala por resolução tomada antecipadamente ou para protestar. Não deixa sem resposta nenhuma pergunta precisa que Lhe é dirigida, quando está em jogo a verdade, mas, também neste caso, são palavras breves, essenciais, pronunciadas sem raiva. N'Ele, o silêncio é todo e somente amor.


O silêncio na Paixão é chave para entender o silêncio de Deus. Quando a discussão se torna muito grande, o único modo de dizer alguma coisa é calar-se. O silêncio de Jesus, de facto, inquieta, irrita, traz à luz a não-verdade das próprias palavras, como quando se calou diante dos acusadores da adúltera.


in "Páscoa - uma passagem para aquilo que não passa", de Raniero Cantalamessa

1 comentário:

Jacinta disse...

"O silêncio na Paixão é chave para entender o silêncio de Deus."

Gostei muito
Um abraço em Cristo

http://fe-e-missao.blogspot.com