2007-06-15

a Mãe Clara e o Coração de Jesus no dia da festa do Coração de Jesus:hoje


Profundo e íntimo era o amor que Madre Maria Clara dedicava ao Sagrado Coração de Jesus. Certamente herdado da terna devoção que o fundador, Padre Raimundo, Lhe consagrava, mas também absorvido desse "cristocentrismo do Coração" que dominou a segunda metade do séc. XIX.

O "Coração" que se considera é o da Paixão e o da Cruz, por um lado, e o da Eucaristia, por outro. Enquanto que do recurso à misericórdia brota a confiança, do recurso ao amor brota a conversão, que induz a sofrer com o Salvador.

É exactamente na contemplação deste amor ofendido, pleno de misericórdia, e no desejo de pagar-lhe com igual amor, que Mãe Clara podia animar suas irmãs a servir, amar e reparar. Escreve ela na 12.ª Circular, de 11/1/1899:

"vivendo de abnegação e de sacrfício, ela (a religiosa, o cristão leigo) trabalhará por despir-se do velho homem e renovar-se no espírito do homem novo, e, como o nosso Santo Pai (S. Francisco de Assis), terá sempre em seus lábios e no seu coração estas palavras: "Meus Deus e meu tudo!". E Deus, em Sua infinita misericórdia e em Seu imenso amor, aceita como um perene holocausto, as suas mínimas palavras, os seus suspiros; tudo nela (em nós ) é (deve ser) um mérito e uma oração."

Nesta perspectiva do "Reinado Universal do Coração de Jesus" é que se situa esse momento alto da história da Congregação, realizado no dia 26 de Junho de 1882: a Consagração solene e oficial da Congregação ao Coração Sagrado do Redentor e Rei de todos os corações.

Por esse gesto de tão profundo amor e devoção, Mãe Clara queria oferecer-Lhe (e certamente também o quer hoje, da janela com que nos observa e acompanha lá no céu) o coração de cada uma das Irmãs e colocar sob a Sua protecção todas as pessoas e obras para as quais trabalhavam. Mas queria, igualmente que o coração de cada hospitaleira/o palpitasse em uníssono com esse Coração Sagrado, ferido e aberto, a fim de poder assimilar os Seus mesmos sentimentose de O ter sempre como ÚNICO SENHOR E MESTRE de toda a sua vida.

Para realizar essa intenção reparadora e obter do Céu a conversão da humanidade, fundou-se, também, no mesmo dia 26 de Junho de 1882 a "Arquiconfraria do Sagrado Coração de Jesus".

Até 1910, o Livro dos Nomes das Irmãs associadas à Arquiconfraria do Coração de Jesus, agora conservado na Torre do Tombo , em Lisboa, regista o total de 1095 Irmãs Hospitaleiras. Por onde se pode concluir que pertencer à Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras significava também, estar directamente consagrada ao Coração de Jesus e comprometida no "Apostolado da Oração".

Existe um facto, que nada tem de casual, e que está profundamente ligado ao último dia da vida da Mãe Clara: foi o último acto de piedade em que ela tomou parte. Exactamente nessa tarde, uma primeira sexta-feira, ela assistiu e participou nas celebrações da devoção do Coração de Jesus e à recitação da Ladainha do mesmo Sagrado Coração, que, precisamente nesse dia, foi cantada nas Trinas pela primeira vez.

Essa Ladainha data, na sua maior parte, do séc. XVIII, mas, nos finais do século seguinte, Roma proibiu a sua recitação pública, porque ainda não tinha recebido a aprovação oficial.Em 1898, por pedido insistente do Bispo de Marselha, foi finalmente aprovada pela Sagraga Congregação dos Ritos e, em 1899, ano da morte da Madre Maria Clara, esta Ladainha em uso até hoje recebeu aprovação universal do Papa Leão XIII, quando ele a rezou solenemente durante o Acto Solene da Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus.

Deus quis compensar a Sua fiel serva com a graça de viver os seus últimos momentos entre nós à sombra do Seu Sagrado Coração, invocando-O como salvação dos que nEle esperam.

quem foi/é Madre Maria Clara - Mãe Clara

A 1 de Dezembro de 1899, faleceu em Lisboa a MÃE DOS POBRES, Madre Maria Clara do Menino Jesus, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.

Nascera 56 anos antes, a 15 de Junho de 1843, e o seu nome de Família era Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles de Albuquerque. Viu a luz da vida na "Quinta do Bosque", situada na povoação hoje conhecida pelo nome de Amadora, nos arredores de Lisboa.

Tendo ficado órfã nas epidemias de 1856-57, foi educada no Asilo Real da Ajuda, em Lisboa, destinado às órfãs de famílias nobres. Aos 19 anos, com a expulsão das Irmãs da Caridade francesas, em Outubro de 1957, foi acolhida no Palácio dos Marqueses de Valada, com quem viveu durante cerca de 5 anos. Os Marqueses trataram-na como uma filha.

Após este tempo, vivido no meio de luxos e vaidade social, decidiu renunciar a tudo e entrar no Pensionato de S. Patrício, junto das Irmãs Capuchinhas Concepcionistas, orientado pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão.

Aqui, percebendo o chamamento do Senhor, iniciou uma caminhada de entrega definitiva a Deus, consagrando-se na Ordem Terceira de S. Francisco, sob a orientação espiritual do Padre Raimundo, ele também frade franciscano vítima das expulsões dos religiosos pelo governo de então. Recebeu o hábito de Capuchinha em 1869, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus.

Em Portugal vigorava a proibição das Congregações Religiosas. A Irmã Maria Clara foi a Calais, na França, para aí fazer o seu noviciado e emitir os votos públicos.

Era urgente a fundação de um instituto genuinamente português para dar resposta às necessidades que a pobreza e todos os tipos de miséria que padeciam as pessoas.

Regressada a Portugal a 1 de Maio de 1871, deu início à Congregação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Fundou a primeira comunidade, em S. Patrício, em 3 de Maio daquele ano e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, a Congregação era aprovada pela Santa Sé.

A Congregação foi aprovada pelo Governo Português como Associação de beneficiência, a 22 de Maio de 1874.

Dotado de um coração transbordante de bondade e de ternura pelos mais pobres e abandonados, a Serva de Deus dedicou a vida inteira a minorar sofrimentos e dores. Encheu Portugal de Centros de Assistência, Atendimento e Educação, onde todos os desvalidos pudessem encontrar carinho, agasalho e amparo, qualquer que fosse a condição social.

Durante o tempo em que foi Superiora Geral, abriu mais de 100 obras e recebeu mais de mil irmãs.

Através dos seus membros, a Congregação procurava estar presente e actuante em todo o lugar onde houvesse o bem a fazer. No meio dos sofrimentos de toda a espécie: na solidão, na doença, na perseguição de que foi alvo, na incompreensão e na calúnia. A Madre Maria Clara soube manter-se sempre fiel a Deus e à missão que Ele lhe confiara. Viveu em constante serviço alegre e generoso a todos. Sem excepção. Desculpava e perdoava a todos, com caridade e fé heróicas. Àqueles de quem recebia maiores ofensas servia de joelhos.

Convicta de que "nada acontece no mundo sem permissão divina", tudo recebia como vindo das mãos de Deus: pessoas e acontecimentos, dores e alegrias, saúde e doença. A única razão de ser da Congregação deveria consistir em: servir, animar, acolher e aconchegar a todos. Iluminar e aquecer. A hospitalidade.

Viveu toda a sua vida numa esperança e confiança inabaláveis. Nada possuindo além do amor de Deus em Cristo Crucificado, que ela experimentava em todos aqueles a quem chamava a "minha gente".

Repousa hoje na Cripta da Capela da Casa Mãe da Congregação, em Linda a Pastora, onde acorrem inúmeros devotos a testemunharem as graças recebidas. O processo de canonização segue o seu curso, em Roma. É a fé no nosso Deus, glorificado na santidade daqueles que escolheram dizer sim com a vida.


salvé 15/6/2007 parabéns Mãe Clara!!!


Queremos seguir teus caminhos de luz
suaves, vibrantes e cheios de ser.
Na hospitalidade gerar só Jesus,
ser Clara nos gestos e ser no viver

2007-06-09


"Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para O ouvirem. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles». Jesus propôs-lhes, emtão, esta parábola:

«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido até a encontrar. Ao encontrá-la põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.» (Lc.15, 1-6)

Esta parábola, assim como as outras que se lhe seguem (dracma perdida e encontrada e o filho perdido e encontrado) situam-se no contexto de um conflito entrea elite religiosa judaica e Jesus. O seu objectivo é denunciar a atitude separatista dos fariseus em nome da pureza religiosa e justificar a atitude misericordiosa de Jesus para com os pecadores. Entre os fariseus, que se separam da gente comum para melhor praticar os mandamentos de Deus, e Jesus, que Se aproxima dos simples, dos doentes e dos pecadores em nome da misericórdia divina, quem é cumpre melhor a vontade de Deus?

Convém não esquecer este contexto polémico para compreender estas parábolas. Se fazemos destas parábolas, chamadas "da misericórdia", histórias consoladoras, edificantes e reconfortantes, tornámo-las insignificantes. É que elas não são consoladoras, mas provocantes e agressivas!

Habitualmente os comentários a esta história põem a tónica na pobre ovelha perdida que espera o seu pastor salvador. Nós somos esta ovelha perdida, mas felizmente Jesus vem salvar-nos! Bem está o que bem acaba! É uma leitura infan~til da parábola. Na verdade a história não atrai a nossa atenção sobre a ovelha perdida, mas sobre o COMPORTAMENTO DO PASTOR. A questão que se coloca aos fariseus e também a nós é: «Não faríeis vós o mesmo que este pastor, que abandona o seu rebanho no deserto para ir atrás da ovelha perdida?»

Efectivamente, a questão principal desta história é a atitude do pastor, que abandona noventa e nove ovelhas no deserto para ir atrás da que não quis fazer senão o que lhe apeteceu e se perdeu. Um "bom" pastor não abandona o seu rebanho no deserto! As ovelhas ficariam sem defesa contra os animais selvagens. Para salvar o seu rebanho, um pastor responsável preferiria sacrificar a ovelha perdida, tanto mais que já devia ter sido comida pelas feras. Jesus não nos pede que nos identifiquemos com a ovelha perdida, mas com o pastor. (...)

Suprimindo o conflito subjacente da parábola, desvirtuamos o seu sentido e apenas a recuperamos para justificar os nossos bons sentimentos. Ora bem, o que faz com que Deus seja Deus e não homem, é que não se comporta como os homens. La sabedoria humana ordena não abandonar as noventa e nove ovelhas no deserto para ir à procura do maldito animal que se perdeu! Para Deus, pelo contrário, basta que uma esteja perdida para que tudo esteja perdido. Para Ele não se trata de sacrificar uma só ovelha para salvar todo o rebanho, como sugeriu o sumo sacerdote Caifás no momento da prisão de Jesus (Jo.11, 49-53). É nisto que Ele mostra que é Deus e não apenas um homem. Quando alguém morre numa cruz, é a humanidade inteira que está perdida. Por este motivo não pode resignar-se a abandonar uma parte para não perder tudo e sacrificar uma só das suas ovelhas.

Assim, é fundamental que o ouvinte da parábola tome posição acerca da atitude que deve adoptar o pastor em tal situação. É a única maneira de conseguir imaginar, mesmo minimamente, os "sentimentos" que se aninham no coração divino. Só assim se pode compreender que o que confere valor à ovelha - à que está perdida e, por conseguinte, a todas as outras - é p preço que o Pastor lhe atribui e não os seus méritos ou obediência. SE A OVELHA PERDIDA É TÃO PRECIOSA, É PORQUE DEUS FAZ TUDO PARA SALVÁ-LA. Deus não ama os homens por causa do seu valor: eles têm valor, porque são muito importantes para Deus e não deixa de salvá-los.

Em vez de recriminar o seu Pastor, as noventa e nove ovelhas deveriam descobrir quanto valem para Ele, pois move céu e terra só para salvar uma delas. (...)

Vendo o que Deus fez para tirar o Seu Filho do buraco negro do túmulo, todos podemos ver o tipo de Pai que temos. Faz por cada um de nós o que fez pela Sua "ovelha perdida". Essencialmente é isto o que a morte de Jesus nos revela: não que o Pai sacrifique o Seu Filho para redimir os pecados dos homens, mas como é capaz de transformar as leis da natureza para para salvar Aquele que se perdeu em solidariedade com os publicanos e pecadores.

O que o Pai fez pelo Seu Filho está disposto a fazer por cada um de nós e é o que faz Jesus comendo com os pecadores. O que revela a grandeza infinita do homem é o amor incondicional que Deus lhe manifesta.

Por conseguinte, a nossa prática religiosa, a nossa justiça e as nossas virtudes não são o preço que temos de pagar para merecer o amor que Deus nos tem, mas pelo contrário. La maravilha divina, um escândalo aos olhos dos homens, é que Deus perde o Seu tempo abandonando no deserto as suas ovelhas fiéis, para ir à procura da que está perdida, porque, na verdade, nenhuma é fiel: todas estão perdidas!

Eis aqui quem é Deus para nós e quem somos nós para Deus e o que deveria encher-nos de alegria.

Esta parábola diz-nos que há uma igualdade fundamental de todos os homens perante Deus, sejam eles fiéis e virtuosos como os fariseus, ou pecadores e impuros como os publicanos. Não é a fidelidade e a obediência aos mandamentos de Deus que dá valor aos homens diante de Deus. Deus ama todos os homens como o SEU ÚNICO. CADA HOMEM TEM, PARA ELE, O PREÇO DO SEU FILHO ÚNICO.

Esta é a BOA NOTICIA que Jesus veio revelar-nos e que os fariseus não conseguiram compreender e aceitar, porque pensavam que reduzia a nada os seus esforços e virtudes. Tinham demasiado a perder se confiassem em Jesus.

E nós, que somos os discípulos de Jesus, somos muitas vezes parecidos com os fariseus: não compreendemos e murmuramos (na Bíblia, "murmurar" não é somente expressão de descontentamento, mas de falta de fé e negar-se a fazer a vontade de Deus), porque Deus nos abandona no nosso deserto para favorecer as pessoas sem fé e sem lei.


in "La Segunda Conversión - de la depressión religiosa a la libertad espiritual",

por André Gromolard