"Teologia hoje - o papel das religiões na paz mundial" é o tema de fundo de uma série de conferências que se realiza este fim de semana na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, no Porto.
"OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE" foi, neste contexto, o tema tratado pelo Sr. Padre António Couto, Superior Geral dos Missionários da Boa Nova e Professor Universitário naquela Instituição, esta manhã.
Por se tratar de um assunto de veras pertinente nos nossos dias, como é pertinente tudo o que se relaciona com as relações entre as pessoas e os povos, eis algumas das notas que tirei:
"OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE" foi, neste contexto, o tema tratado pelo Sr. Padre António Couto, Superior Geral dos Missionários da Boa Nova e Professor Universitário naquela Instituição, esta manhã.
Por se tratar de um assunto de veras pertinente nos nossos dias, como é pertinente tudo o que se relaciona com as relações entre as pessoas e os povos, eis algumas das notas que tirei:
"Com esta expressão - olho por olho, dente por dente - estamos a falar da lei de talião (do latim = igual), segundo a qual o ofendido tinha direito a causar a quem o ofendesse um dano igual ao recebido. E não mais." A formulação desta lei encontra-se no Livro deo Exodo (21, 23-25) e a sua revogação por Jesus no Evangelho de Mateus (5, 38-40).
"Associada a esta lei está a ideia de barbaridade. Chega-se a pensar que o Antigo Testamento está repassado de barbaridade. Não é verdade!"
"A lei de talião não é exclusiva das páginas bíblicas. Aparece nas legislações do oriente próximo antigo muito antes da entrada dos povos de Israel na história. Encontramo-la em códigos egípcios, hititas e outros. E principalmente no Código de Hamurabi, 17 séculos antes de Cristo (cfr. parágrafos 196 e 197): a um dano causar-se-á igual dano. Trata-se de um freio à vingança desenfreada do mais forte. Não tem qualquer correspondência na "lei de Lamec" de Génesis 4, 23-24. Aqui há um desnivelamento dos danos; é a lei do mais forte, da brutalidade e da barbaridade, que não é a lei de talião". Refira-se que "ainda hoje esta lei (de lamec) vigora e o produto das guerras, ao longo dos séculos, traduz-se em cerca de 3 biliões e 700 milhões de mortos".
"Esta lei de talião é já um avanço civilizacional. Enquanto a lei do mais forte representa o nosso estado de natureza, a lei de talião representa as nossas convenções de razão."
Numa primeira fase, "no código de Hamurabi (parágrafos 198 e 199), a lei de talião dizia respeito só a homens livres: a classe de elite da sociedade de Hamurabi. Havia, ainda uma segunda classe, intermédia entre aquela e a dos escravos." Se as ofensas eram perpetradas em pessoas desta segunda categoria, "o agressor era condenado a pagar um preço" e "metade de um preço" no caso de a vítima ser um escravo.
"No Antigo Testamento, a lei de talião aparece nos três códigos legislativos mais importantes:
a) o código da aliança - Ex. 20,22.23,33;
b) o código deuteronómico - Dt. 19,21;
c) o código sacerdotal - Lv. 24,20."
"No Código da Aliança encontramos uma radicalização da lei de talião. Começa pela expressão "vida por vida". Alarga-se, aqui, a compreensão da vida de um homem: inclui a vida pré-natal. Continua a haver uma menos-valia para a vida de um escravo: "deixá-lo-á partir em liberdade".
"No Código Deuteronómico (dt. 19,16-21) alarga-se o valor da vida de um homem ao bom nome e à dignidade da vida humana. Atentar contra o bom nome é como atentar contra a vida."
"No Código Sacerdotal ou de Santidade (Lv.24,17-22), a lei de talião é alargada à vida humana na sua integralidade. Ser Humano = adam. Salta á vista o seu carácter universalista: aplica-se a todo o ser humano sem excepção (Lv. 24,22)."
"O COMPORTAMENTO DE JESUS, quer no ensino quer na prática, revela-se por uma plicação assimétrica da lei de talião. Jesus ultrapassa a tentativa de equilíbrio entre agressor e agredido. N'Ele encontramos um excesso de bondade, que é a única meneira de se pôr fim à violência. Jesus não remete para a NÃO-VIOLÊNCIA, porque, nesta, antes da não violência existe a violência. Jesus remete para o estado de criação: "no princípio não era assim."
"O TALMUDE coloca Deus a rezar e Deus reza assim:
- que a minha misericórdia vença a minha ira (...) para que Me porte com indulgência para com os meus filhos."
"Jesus opta por este procedimento: a misericórdia. Pela entrega radical aos outros, mesmo aos violentos, e pelo perdão radical. O que é que isto significa? Fraqueza? Impotência? Incapacidade? Ou é uma desarmante soberania?! Revela a soberana liberdade interior de quem não se deixa envolver pela violência dos adversários. Por amor de quem o ofende, Ele responde com a entrega total, desmontando por completo aquela violência."
"Este o caminho feito pela lei de talião até Jesus. Jesus vem anular a violência pela soberania da misericórdia. No ciclo de conferências "Igreja e Missão", um teólogo dizia que os cristão em todo o mundo são quase dois biliões de pessoas. E perguntava: o que seria este mundo se todos os cristãos praticassem a lei da misericórdia. Aqui sou eu que levanto a questão: se quase todas as religiões do mundo contemplam a misercórdia, se todos os seus crentes a praticassem, o que seria este mundo?"
Esta foi a pergunta que o Sr. Padre António Couto nos deixou. Eu atrever-me-ia a afirmar que cairiam todas as regras da economia e muitos países iriam à falência. Quem dera que fosse já a seguir!!!
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