2007-03-30

é este o tempo favorável - I


CRONOS - O CRUEL PAI DO TEMPO

Os gregos tinham duas palavras para o conceito de «tempo». E ambas as designações se referem aos deuses. Isso mostra que, para eles, o tempo era um mistério divino; não se tratava de uma coisa puramente exterior, passível de ser medida com o relógio.
A verdadeira palavra para tempo era «chronos». Chronos relacionava-se com o deus Cronos, que é «o cruel pai do tempo». Cronos era filho de Urano e de Gaia. Libertou os irmãos do ventre da terra, para onde Urano repelira os recém-nascidos. Deste modo, viria a ser o chefe dos Titãs. Com a sua irmã Reia, Cronos procriou os deuses do Olimpo. Todavia, receando um sucessor humano, devorou os seus filhos. Reia conseguiu salvar apenas o filho mais novo, Zeus, entregando ao pai uma pedra envolta em faixas. Ao crescer, Zeus dominou o pai, para que este cuspisse os irmãos. Com a ajuda deles, Zeus subjugou Cronos e passou então a governar o destino dos homens, a partir do Olimpo.
Ao interpretar este mito, deparamo-nos com um importante aspecto do tempo. O tempo devora os seus filhos.
(...)

CAIROS - O DEUS DO MOMENTO CERTO

A outra expressão para tempo na tradição grega é «kairos». Cairos é o momento certo, a oportunidade, a utilidade, a medida certa. Os romanos apresentam o deus masculino Cairos como feminino, na forma de «occasio»: a oportunidade. O deus grego do momento certo tem asas nos pés ou nos ombros, quando é apresentado figurativamente. Caminha sobre os bicos dos pés ou encontra-se sobre rodas e oscila uma balança sobre uma lâmina. A sua cabeça é bastante interessante. Na testa, tem um tufo de cabelo. Em contrapartida, a nuca é careca. Com esta representação, os gregos pretendiam mostrar que se devem agarrar as oportunidades. O momento é efémero como mostra a nuca lisa. Quando o momento passa por nós a correr, não o podemos apanhar. Por isso, devemos encontrar o Cairos pela frente e agarrá-lo, mal ele surja. Para os pitagóricos, o Cairos é representado pelo número sete. Isso recorda-nos a história bíblica da Criação. O sétimo dia, em que Deus descansou, deixa transparecer esta qualidade, com que a antiga escola filosófica grega contemplou o Cairos.

in Grün, Anselm, "Ao Ritmo do Tempo dos Monjes", Col. Horizontes de Luz, Paulinas Editora

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