2007-05-26

a vida segundo o Espírito


"Aquele que ressuscitou Cristo dos mortos vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do Seu Espírito, que habita em vós" (Rm.8,11).


A vida segundo o Espírito é a vida que arranca da novidade da Ressurreição de Jesus e se projecta na ressurreição final.

"Em nome da Ressurreição de Cristo, a Igreja anuncia a vida, que se manifestou para além das fronteiras da morte, a vida que é mais forte que a morte" (DV 58).

Tal vida, porém, é a vida segundo o Espírito. "Unida ao Espírito Santo, a Igreja é consciente, mais do que ninguém, do homem interior, dos traços que no homem são mais profundos e essenciais, porque incorruptíveis. É neste nível que o Espírito enxerta a "raíz da imortalidade", da qual desponta a vida nova, ou seja, a vida do homem em Deus, que, como fruto da divina auto-comunicação salvífica no Espírito Santo, só pode desenvolver-se e consolidar-se sob a acção do mesmo Espírito" (DV 58).

"Deus, uno e trino ... ao comunicar-Se no Espírito Santo como dom ao homem, transforma o mundo humano a partir de dentro, a partir do interior dos corações e das consciências" (DV 58).

Quando o homem se deixa transformar, por docilidade ao Espírito, a partir do seu interior, faz a descoberta do que é e do que vale e, apartir daí, só entende a sua vida como abertura e doação a Deus e ao próximo. "Neste caminho, o Espírito Santo, consolidando em cada um de nós o "homem interior", faz com que o homem cada vez mais se encontre plenamente através do dom sincero de si" (DV 59).


A VIDA SEGUNDO O ESPÍRITO É VIDA EM GRAÇA, MAS COMPROMETIDA COM OS HOMENS


O que vive segundo o Espírito não está livre do peso da vida, da opacidade da exixtência terrena, das tribulações da dor e das angústias e da sujeição ao império da morte. O que vive segundo o Espírito assume sem lamúrias esta condição humana; compreende-a como pertencendo à sua estrutura criacional; acolhe a mortalidade e pequenez como vindas de Deus ("acolhei tudo como vindo das mãos de Deus" - dizia a Mãe Clara).Mas não organiza a sua vida em função da carne. Dá-se conta de um apelo maior: o mundo não pode definir o quadro final da sua vida nem fornece o sentido derradeiro do pulsar do coração. Somente Deus, a Quem chegamos atravessando a morte ("é morrendo que se vive") pode ser o descanso do coração inquieto. Por isso, o homem espiritual vê este mundo com os olhos da eternidade, a vida ultrapassando para além da morte, e a condição presente como ordenada à condição celeste ainda por vir ("no desânimo, lembremo-nos do céu e essa esperança nos alentará").

VIVER SEGUNDO O ESPÍRITO é viver filialmente face a Deus, na devota obediência à Sua vontade ("amemos a Deus e só a Deus"); fraternalmente com os irmãos ( "praticai a caridade com a maior perfeição") e senhorilmente frente ao mundo como um livre senhor e responsável pela recta ordem das realidades mundanas. Quem vive SEGUNDO O ESPÍRITO viverá sempre mesmo que passe pela morte, porque participa da FONTE DA VIDA que é Deus. À luz desta compreensão, Jesus podia dizer: "o Espírito é Quem dá a Vida; a carne para nada serve" (Jo.6,33). E Paulo redizia: "as tendências da carne são a morte, mas as do Espírito são a vida e a paz" (Rm.8,6).

A vida humana destina-se a ser O TEMPLO DE DEUS. O homem existe por causa de Deus e para Deus. Deus quer comunicar de tal forma a própria VIDA, que criou a vida humana para poder divinizá-la, o que equivale dizer, para fazê-la Sua. É então que Deus SE faz homem. E ao fazer-SE homem, Ele diviniza o homem.

A VIDA EM GRAÇA é vida segundo o Espírito. No homem trava-se uma luta e existe uma permanente tensão entre "a abertura à acção do Espírito Santo e a resistência e oposição a Ele, dom salvífico". "Os termos ou pólos contrapostos são aqui: da parte do homem, as suas limitações e pecaminosidade e da parte de Deus o Mistério do Dom, o incessante doar-se da vida no Espírito Santo" (DV 55).

O que será viver em graça?

É essencialmente isto: saber acolher o DOM. Da parte do Espírito, podemos ter a certeza que Ele "vem em auxílio da nossa fraqueza" (Rm.8,26).

A GRAÇA DE DEUS não é uma "coisa" colocada em nós. A GRAÇA é a própria Vida de Deus a circular na nossa vida, é Deus em nós. Abrir-nos a esta vida, fazê-la circular em nós, alimentá-la, orientar por Ela tudo o que somos e fazemos é a parte que nos é pedida como acolhimento de correspondência ao DOM. VIVER EM GRAÇA não é ter em si alguma coisa. É SER EM DEUS, é uma respiração divina.


de D. Manuel Madureira - in 15 Catequeses sobre o Espírito Santo

Notas a cor - Madre Maria Clara do Menino Jesus - in "Escuta"

2007-05-03

3 de maio de 1876 - 3 de maio de 2007 - parabéns!


Hoje é um dia grande na minha história pessoal, na história da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e... porque não dizer a verdade histórica! - na história do nosso país. E digo-o, porque são muitos os efeitos positivos na construção da sociedade portuguesa dos últimos 131 anos.

Vejam só algumas pequeninas "curiosidades" a provar o que afirmei.

Em 1856, a epidemia de cólera-morbus invadiu a cidade de Lisboa e grande parte do país, fazendo inúmeras vítimas entre todas as classes sociais. No ano seguinte... o terrível flagelo da febre amarela. Ora, o Reino viu-se confrontado com a necessidade de responder às necessidades urgentíssimas de uma tal situação, nomeadamente tratar dos órfãos, filhos desta tragédia.

Era rei D. Pedro V, que decidiu ceder parte do seu palácio da Ajuda e aí fundou o Asilo Real, que dava educação às filhas órfãs das famílias nobres e fidalgas de então.

O seu predecessor, D. Pedro IV, extinguira todas as casas religiosas por decreto de 30 de Maio de 1834. Daí que não havia Institutos Religiosos no país que ajudassem a minorar os efeitos da epiemia, D. Pedro V mandou vir as Irmãs de S. Vicente de Paulo, a quem "entregou" o supra referido Asilo Real da Ajuda.

Foi nesse colégio que Libânia do Carmo Mexia Galvão Telles de Albuquerque - a nossa Madre Maria Clara do Menino Jesus -, também ela órfã, fez a sua educação e formação.

Entretanto, a feroz perseguição orquestrada pela maçonaria - e que `^os o país em risco de guerra civil! - levou novamente à expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal e ao consequente encerramento dos Conventos e Casas Religiosas. Os seus bens foram "incorporados" na Fazendo Nacional. Confiscados, portanto. Os seus membro - aqueles que não fugiram para fora do país - foram condenados à "rua".

Foi neste contexto histórico que nasceu a Congregação, a CONFHIC. E nasce apenas e só pelo simples facto de haver alguém que continua a manter os olhos e o coração aberto aos outros e ao mundo.

É que ontem, como hoje (ao contrário do que se quer fazer crer), as respostas às necessidades sociais, incluindo a própria sobrevivência, não eram plenamente asseguradas pelos governos de turno. Só com a ajuda de pessoas com Evangelho de Jesus Cristo a correer-lhes nas veias é que se podia minorar tanta miséria. E foi o que aconteceu com a nossa protagonista, Madrre Maria Clara. Ela pôs-se à frente deste serviço/mistério que foi o de fazer de todos os pobres a SUA GENTE.

À custa de grandes dificuldades e sacrifícios, o Governo de então, lá aprovou a Congregação, mas com o estatuto de associação de beneficência, por um alvará de 22 de Maio de 1874.

Em 1876 conseguiu-se a aprovação da Santa Sé e a 3 de Maio do mesmo ano foi eleita Superiora Geral a Madre Maria Clara do Menino Jesus, em cerimónia que foi revestida de grande solenidade.

O Fundador, Padre Raimundo dos Anjos Beirão, pôs-lhe uma coroa de flores de laranjeira na cabeça, da qual pendia um cacho das mesmas flores até ao pescoço. Ao peito levava um amor perfeito, como símbolo do amor intensíssimo com que amava a sua Congregação. Essa coroa conservou-se como relíquia, mas foi destruída no meio das ruínas da revolução de 1910.
Refira-se a título de notícia que o processo de beatificação já deu entrada há alguns anos e as informações vindas de Roma dizem-nos que está "bem posicionado". Daí que, não por ela mas porque somos nós quem mais precisa, não nos cansemos de invocar a sua intercessão.

Hoje, somos nós, as suas filhas e filhos que prolongamos o rosto desta mulher, que fez da sua vida reflexo do verdadeiro rosto do Pai. Hoje é a festa de S. Filipe e de S. Tiago. E não é por acaso, até porque no dizer da nossa Mãe Clara "nada acontece sem permissão divina", que no Evangelho do dia Jesus, ao pedido de Filipe, Jesus responde: "Quem me vê, vê o Pai".

Que todos nós, para quem a Mãe Clara se tornou luz e modelo de vida, nunca nos cansemos de lhe pedir que nos mostre Jesus.

E que todos nós possamos dizer à semelhança de Jesus e salvas as devidas distâncias, quem nos vê, vê a Mãe Clara. Porque quem a via, via Jesus Hospitalidade.